[#Recuperação] Revi-me na Luna
14.9.20A Luna veio para minha casa quando eu estava em espiral
descendente para a anorexia. Apesar de nunca ter deixado de comer, estava a
emagrecer bastante, e o meu corpo começava a reflectir o exercício extremo e a
carência nutricional que estavam presentes na minha vida. Ela veio para me
ajudar a curar, e assim o fez.
Curiosamente, foi precisamente na altura em que me sentia
mais longe desse distúrbio alimentar que a Luna adoeceu. Parecia uma cena de um
daqueles dramas bem lamechas – ela tinha conseguido ajudar-me a recuperar,
tinha cumprido a sua missão, estava na hora de partir. A sorte é que os gatos
têm sete vidas e, se por cada transfusão perder uma, quer dizer que ainda tem
mais 5 para desfrutar (na minha companhia, hopefully).
Durante as semanas de internamento ela teve alta num
dia à tarde e foi readmitida no dia seguinte de manhã (como falei aqui). Nesse
dia, quando a vi com os olhos baços, sem energia, letárgica e, em particular,
extremamente magra, o meu coração quase parou.
A Luna tem o pelo comprido pelo que a sua magreza fica um
pouco camuflada. Tal como a minha magreza passou despercebida com as roupas de
inverno. E eu vi-me naquele corpinho pequeno, inerte, deitado naquela manta.
O desespero aumentou quando lhe tentava dar comida para lhe
poder dar a medicação e ela a rejeitava. Passamos a noite e a manhã seguinte a
tentar que ela comesse e nada. Tal como os meus pais queriam que eu comesse bem
e parasse com as loucuras da actividade física.
Revi-me na Luna.
E senti o desespero que todos os que me rodeavam sentiram
quando era eu que andava na corda bamba.
Eu não conseguia fazer nada pela minha gata. Tive medo,
muito medo, que ela partisse. E sei que foi precisamente isto que a minha mãe
sentiu quando eu estava na minha fase menos boa. Ela não conseguia fazer nada
por mim, sentia-se completamente impotente e, de uma forma um pouco pura e
dura, estava a ver-me morrer.
Na verdade tudo isto me fez pensar… Será que se eu soubesse
tudo isto antes, teria mudado alguma coisa?
A resposta mais honesta é não.
Ao contrário da doença da Luna, a anorexia é uma doença
egoísta. Acabamos por nos centrar apenas em nós e
anular tudo o que é emoção, pois é a nossa forma de nos defender das
adversidades. É quase como se a anorexia fosse um escudo, e nós nos escondemos
atrás dele, mas esquecemo-nos que existem pessoas importantes do outro lado que
nos querem ajudar.
Mas a realidade é que perceber a dor dos outros nos ajuda a
criar empatia… E embora não o conseguisse fazer na altura, pois estava doente,
consigo agora sentir empatia e compreender aquilo que os meus passaram por
minha causa.
2 comentários
Beijinho no coração.
ResponderEliminarVanessa Casais
https://primeirolimao.blogspot.com/
Olá, Patty!
ResponderEliminarConseguintes "ler nas entrelinhas" e perceber o que te rodeou na tua pior fase. Os últimos momentos da Luna tiveram esse propósito!
Fica bem!
Beijinhos
Liliana