[#Info] Compulsão Alimentar ou Extreme Hunger? Afinal qual é a diferença?

19.10.20

Aposto um rim que 90% das pessoas que recuperaram ou estão em recuperação de um distúrbio alimentar restritivo (como é o caso da anorexia) passaram, pelo menos uma vez, por uma fase em que achavam que estavam a ter compulsões alimentares.

Eu, pelo menos, passei. E ainda passo, se for franca.

Tenho alguns dias em que digo, de brincadeira, mas quase que a dar facadas no coração, que tenho um buraco negro na barriga – como, como, como e não paro. Isto é provavelmente a pior coisa que alguém com anorexia pode experienciar.

A verdade é que, uma vez que a terminologia “compulsão alimentar” é usada de forma comum, especialmente em comunidades de fitness e bem-estar, e está normalmente associada ao excesso de peso, torna-se um pesadelo. Por outro lado, a informação em Portugal sobre a anorexia e sua recuperação é muito escassa e nem todas as pessoas que passa por isso têm possibilidade de pesquisar noutras línguas.

Uma das coisas que tenho feito imenso (e que agora tento transmitir para quem precise) é investigar sobre este processo de recuperação, enquanto eu própria passo por ele. E numa dessas investigações, dei de caras com um termo que é “extreme hunger”. E vocês agora podem perguntar…

Mas isso de extreme hunger e compulsão alimentar não é tudo a mesma coisa?

Não necessariamente.

Extreme hunger está fortemente relacionada com a anorexia – aliás, nunca vi este termo associado a outras patologias sem ser distúrbios alimentares restritivos. Também nunca vi a tradução deste termo para português – seria algo como “fome extrema”, mas, para facilidade de pesquisa, irei utilizar a terminologia em inglês.

Mas afinal qual é a diferença?

Eu diria que a diferença é, no fundo, a causa que leva ao consumo elevado de alimentação.

De acordo com o Eating Disorder Institute, extreme hunger esta associado a uma deficiência gerada nos sinais de fome e saciedade comunicados entre o sistema digestivo e o cérebro. Por outras palavras, uma vez que o corpo esteve muito tempo em carência nutricional e em restrição, não sabe definir a sensação de saciedade. Paralelamente, os nossos corpos não são parvos e, quando se apercebem que há uma maior disponibilidade de alimento, começam a enviar estímulos para comermos… e nós comemos… e comemos… e comemos.

Numa perspetiva biológica e evolutiva, tudo isto faz sentido – quando os primeiros Homo sapiens passavam temporadas de carência alimentar, seguidas de períodos de abundância, eles comiam mais para conseguirem aguentar a falha de alimentos. O mesmo se passa aqui, mas em vez de resultar da ausência de alimento, resulta de uma imposição psicológica.

E isto leva-me a uma questão fundamental: normalmente esta questão faz com que as pessoas que sofram com anorexia fiquem com medo, e comam menos… o que por sua vez leva a uma maior predisposição para se sofrer de extreme hunger… E o ciclo perpetua-se.

Por outro lado, a compulsão alimentar geralmente tem uma componente emocional inerente que leva a que esse consumo alimentar excessivo ocorra. Nada tem a ver com os sinais de fome ou saciedade atrofiados, mas sim com uma dor psicológica, uma situação de stress, ou qualquer outra perturbação emocional ou psicológica que a pessoa tenta cobrir ou esquecer com comida. A pessoa sente-se cheia e continua a comer, enquanto que alguém com extreme hunger quando se sente cheia consegue parar!

 A verdade é que a extreme hunger não dura para sempre. Uma vez que esses sinais de fome e saciedade se restauram, esta sensação de se comer demais desaparece. Além disso, as pessoas que sofrem com anorexia tendem a achar que comem muito mais do que comem na realidade. De facto, até podem estar a comer mais, mas quando comparado com os antigos padrões alimentares doentes – geralmente aquilo que parece “comida a mais” para alguém com anorexia, é o que se aproxima de uma porção completamente normal de um comum mortal.

Assim sendo, apesar de ser algo muito difícil de se lidar, a extreme hunger é parte normal da recuperação de anorexia e, em especial, NÃO DURA PARA SEMPRE. Se estás a recuperar e a sofrer deste problema, lembra-te – de cada vez que comes aquilo que te parece meio mundo, o teu corpo está a regenerar ossos, músculos e órgãos, não a acumular gordura.

Confia.



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16 comentários

  1. Que post necessário, te desejo forças para continuar,acredito que vai dar tudo certo!
    Beijo. Tenho blog também: https://blogcarolarruda.blogspot.com
    E tenho canal se quiser me visitar: https://youtu.be/wVqdhHUsuN8
    Bj.😍

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    1. Muito obrigada querida Carol!
      Já estou a acompanhar o teu Blog e canal de youtube!

      Um beijinho*

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  2. Muito importante este post. O corpo precisa de alimento, se "pede" então é comer coisas boas, saudáveis, par repor nutrientes.

    Bjs
    Coisas de Feltro

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    1. Nem mais! Temos de nos cuidar. O nosso corpo é muito inteligente :)

      Um beijinho*

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  3. Sou sincera não fazia ideia. Muito importante esta informação. <3
    Um beijinho,
    http://myheartaintabrain.blogspot.com/

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    1. Na verdade nem eu sabia sobre isto até começar a pesquisar a fundo porque precisei de perceber o que se passava comigo :)

      Um beijinho*

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  4. Thanks for speaking up about this. This must be helpful for many.
    xoxo
    Lovely
    www.mynameislovely.com

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  5. Olá, querida Patty!

    Não fazia ideia da diferença real entre estes dois termos (compulsão alimentar e extreme hunger), mas se traduzirmos, como tu fizeste, extreme hunger, chega-se lá com facilidade. Extreme hunger, é fome extrema, mas consegue-se parar de comer, qdo estamos cheios e saciados, enqto que na compulsão, há compulsividade, portanto, e "não há cérebro" que dê um sinal, uma ordem ao corpo ou será tb o contrário? Comemos que nem doidinhos e nunca estamos cheios. Creio que é isto.

    Como tu referes e mto bem, o Homo Sapiens comia muito em determinadas épocas, pke noutras o alimento era escasso. Nós, humanos, e devido a crenças religiosas e a outros fatores, procedemos da mesma forma. Os Muçulmanos, por exemplo, têm o mês sagrado do Ramadão, onde não podem comer desde o nascer ao pôr-do-sol. Depois do poente, comem determinados tipos de alimentos bem calóricos em excesso e muitos doces.
    Há católicos que ainda fazem jejum para se purificarem à sexta-feira, portanto a mente deles está programada assim.

    O sistema digestivo e o cérebro até se entendem bem, acho eu, e o corpo, como tu dizes, não é parvo, embora já tenham morrido pessoas por anorexia, mas mtas mais por obesidade.

    Gostei do teu post. Foi mto esclarecedor. Obrigada!

    Beijos e boa semana. Enfim, hoje temos tido sol aos bochechos.

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    1. Se pensarmos bem, os animais na natureza não têm problemas de excesso de peso nem de magreza extrema nas situações normais. Eles vão-se adaptando com os recursos que têm, alimentando-se mais quando há abundancia para aguentar as carências, mas tudo num equilibrio exemplar!
      Os Humanos poderiam fazer o mesmo, mas têm um cerebro diferente e a parte emocional conta muito...

      Muito obrigada pelo teu comentário!

      Um beijinho grande*

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  6. Gostei do teu post
    Ótimo blog este o teu
    https://t.co/CR7kTTxaHv?amp=1

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  7. Olá, Patty!

    Quando li o título achei que as duas expressões significavam a mesma coisa.
    Agora fiquei elucidada.
    Gostei particularmente do último parágrafo - percebe-se que tens bem assimilada esta etapa da recuperação.

    Beijinhos
    Liliana
    Ideias Recicladas e... não só!

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    1. Eu não sabia sequer o que era isto... até que tive de pesquisar e perceber porque queria entender o que se passava com o meu corpo.

      Obrigada querida Liliana!
      Um beijinho*

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  8. Esse post é muito importante pra gente aprender , mesmo que não passemos por isso se caso algum dos nossos passar. A informação é muito necessária para apoio.
    Beijos!
    https://www.dicasdaluh.eu.org/

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  9. Demora muito tempo a passar? E que tou assim a quase 5 meses e nao sei o que eide pensar!

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    1. Olá Doce :)

      A verdade é que não existe uma resposta para a tua pergunta... Demora o tempo que o teu corpo necessitar para se reestruturar. Mas eu diria que se a extreme hunger é ainda algo que te incomoda muito e que ainda tentas controlar, é porque ainda não chegaste à meta...
      Só existe uma forma de acabar com a fome extrema... comendo!

      Não tenhas medo!

      Um beijinho*

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