[#Info] Compulsão Alimentar ou Extreme Hunger? Afinal qual é a diferença?
19.10.20Eu, pelo
menos, passei. E ainda passo, se for franca.
Tenho
alguns dias em que digo, de brincadeira, mas quase que a dar facadas no
coração, que tenho um buraco negro na barriga – como, como, como e não paro.
Isto é provavelmente a pior coisa que alguém com anorexia pode experienciar.
A
verdade é que, uma vez que a terminologia “compulsão alimentar” é usada de
forma comum, especialmente em comunidades de fitness e bem-estar, e está
normalmente associada ao excesso de peso, torna-se um pesadelo. Por outro lado,
a informação em Portugal sobre a anorexia e sua recuperação é muito escassa e nem
todas as pessoas que passa por isso têm possibilidade de pesquisar noutras línguas.
Uma das
coisas que tenho feito imenso (e que agora tento transmitir para quem precise)
é investigar sobre este processo de recuperação, enquanto eu própria passo por
ele. E numa dessas investigações, dei de caras com um termo que é “extreme
hunger”. E vocês agora podem perguntar…
Mas isso de extreme hunger e compulsão alimentar não
é tudo a mesma coisa?
Não necessariamente.
Extreme
hunger está fortemente relacionada com a anorexia – aliás, nunca vi este
termo associado a outras patologias sem ser distúrbios alimentares restritivos.
Também nunca vi a tradução deste termo para português – seria algo como “fome extrema”,
mas, para facilidade de pesquisa, irei utilizar a terminologia em inglês.
Mas
afinal qual é a diferença?
Eu diria
que a diferença é, no fundo, a causa que leva ao consumo elevado de
alimentação.
De
acordo com o Eating Disorder Institute, extreme hunger esta associado a
uma deficiência gerada nos sinais de fome e saciedade comunicados entre o
sistema digestivo e o cérebro. Por outras palavras, uma vez que o corpo esteve
muito tempo em carência nutricional e em restrição, não sabe definir a sensação
de saciedade. Paralelamente, os nossos corpos não são parvos e, quando se
apercebem que há uma maior disponibilidade de alimento, começam a enviar estímulos
para comermos… e nós comemos… e comemos… e comemos.
Numa perspetiva
biológica e evolutiva, tudo isto faz sentido – quando os primeiros Homo sapiens
passavam temporadas de carência alimentar, seguidas de períodos de abundância, eles
comiam mais para conseguirem aguentar a falha de alimentos. O mesmo se passa
aqui, mas em vez de resultar da ausência de alimento, resulta de uma imposição psicológica.
E isto
leva-me a uma questão fundamental: normalmente esta questão faz com que as
pessoas que sofram com anorexia fiquem com medo, e comam menos… o que por sua
vez leva a uma maior predisposição para se sofrer de extreme hunger… E o
ciclo perpetua-se.
Por
outro lado, a compulsão alimentar geralmente tem uma componente emocional
inerente que leva a que esse consumo alimentar excessivo ocorra. Nada tem a ver
com os sinais de fome ou saciedade atrofiados, mas sim com uma dor psicológica,
uma situação de stress, ou qualquer outra perturbação emocional ou psicológica que
a pessoa tenta cobrir ou esquecer com comida. A pessoa sente-se cheia e
continua a comer, enquanto que alguém com extreme hunger quando se sente
cheia consegue parar!
A
verdade é que a extreme hunger não dura para sempre. Uma vez que esses
sinais de fome e saciedade se restauram, esta sensação de se comer demais
desaparece. Além disso, as pessoas que sofrem com anorexia tendem a achar que
comem muito mais do que comem na realidade. De facto, até podem estar a comer
mais, mas quando comparado com os antigos padrões alimentares doentes –
geralmente aquilo que parece “comida a mais” para alguém com anorexia, é o que
se aproxima de uma porção completamente normal de um comum mortal.
Assim
sendo, apesar de ser algo muito difícil de se lidar, a extreme hunger é parte
normal da recuperação de anorexia e, em especial, NÃO DURA PARA SEMPRE. Se
estás a recuperar e a sofrer deste problema, lembra-te – de cada vez que comes
aquilo que te parece meio mundo, o teu corpo está a regenerar ossos, músculos e
órgãos, não a acumular gordura.
Confia.
16 comentários
Que post necessário, te desejo forças para continuar,acredito que vai dar tudo certo!
ResponderEliminarBeijo. Tenho blog também: https://blogcarolarruda.blogspot.com
E tenho canal se quiser me visitar: https://youtu.be/wVqdhHUsuN8
Bj.😍
Muito obrigada querida Carol!
EliminarJá estou a acompanhar o teu Blog e canal de youtube!
Um beijinho*
Muito importante este post. O corpo precisa de alimento, se "pede" então é comer coisas boas, saudáveis, par repor nutrientes.
ResponderEliminarBjs
Coisas de Feltro
Nem mais! Temos de nos cuidar. O nosso corpo é muito inteligente :)
EliminarUm beijinho*
Sou sincera não fazia ideia. Muito importante esta informação. <3
ResponderEliminarUm beijinho,
http://myheartaintabrain.blogspot.com/
Na verdade nem eu sabia sobre isto até começar a pesquisar a fundo porque precisei de perceber o que se passava comigo :)
EliminarUm beijinho*
Thanks for speaking up about this. This must be helpful for many.
ResponderEliminarxoxo
Lovely
www.mynameislovely.com
I hope so!
EliminarThank you so much sunshine*
Olá, querida Patty!
ResponderEliminarNão fazia ideia da diferença real entre estes dois termos (compulsão alimentar e extreme hunger), mas se traduzirmos, como tu fizeste, extreme hunger, chega-se lá com facilidade. Extreme hunger, é fome extrema, mas consegue-se parar de comer, qdo estamos cheios e saciados, enqto que na compulsão, há compulsividade, portanto, e "não há cérebro" que dê um sinal, uma ordem ao corpo ou será tb o contrário? Comemos que nem doidinhos e nunca estamos cheios. Creio que é isto.
Como tu referes e mto bem, o Homo Sapiens comia muito em determinadas épocas, pke noutras o alimento era escasso. Nós, humanos, e devido a crenças religiosas e a outros fatores, procedemos da mesma forma. Os Muçulmanos, por exemplo, têm o mês sagrado do Ramadão, onde não podem comer desde o nascer ao pôr-do-sol. Depois do poente, comem determinados tipos de alimentos bem calóricos em excesso e muitos doces.
Há católicos que ainda fazem jejum para se purificarem à sexta-feira, portanto a mente deles está programada assim.
O sistema digestivo e o cérebro até se entendem bem, acho eu, e o corpo, como tu dizes, não é parvo, embora já tenham morrido pessoas por anorexia, mas mtas mais por obesidade.
Gostei do teu post. Foi mto esclarecedor. Obrigada!
Beijos e boa semana. Enfim, hoje temos tido sol aos bochechos.
Se pensarmos bem, os animais na natureza não têm problemas de excesso de peso nem de magreza extrema nas situações normais. Eles vão-se adaptando com os recursos que têm, alimentando-se mais quando há abundancia para aguentar as carências, mas tudo num equilibrio exemplar!
EliminarOs Humanos poderiam fazer o mesmo, mas têm um cerebro diferente e a parte emocional conta muito...
Muito obrigada pelo teu comentário!
Um beijinho grande*
Gostei do teu post
ResponderEliminarÓtimo blog este o teu
https://t.co/CR7kTTxaHv?amp=1
Olá, Patty!
ResponderEliminarQuando li o título achei que as duas expressões significavam a mesma coisa.
Agora fiquei elucidada.
Gostei particularmente do último parágrafo - percebe-se que tens bem assimilada esta etapa da recuperação.
Beijinhos
Liliana
Ideias Recicladas e... não só!
Eu não sabia sequer o que era isto... até que tive de pesquisar e perceber porque queria entender o que se passava com o meu corpo.
EliminarObrigada querida Liliana!
Um beijinho*
Esse post é muito importante pra gente aprender , mesmo que não passemos por isso se caso algum dos nossos passar. A informação é muito necessária para apoio.
ResponderEliminarBeijos!
https://www.dicasdaluh.eu.org/
Demora muito tempo a passar? E que tou assim a quase 5 meses e nao sei o que eide pensar!
ResponderEliminarOlá Doce :)
EliminarA verdade é que não existe uma resposta para a tua pergunta... Demora o tempo que o teu corpo necessitar para se reestruturar. Mas eu diria que se a extreme hunger é ainda algo que te incomoda muito e que ainda tentas controlar, é porque ainda não chegaste à meta...
Só existe uma forma de acabar com a fome extrema... comendo!
Não tenhas medo!
Um beijinho*