[#Recuperação] A subtileza do autojulgamento
10.8.20Verão é tempo de fruta… e eu adoro fruta. E é
especificamente tempo de cerejas que por sinal eu também gosto muito. No outro
dia, estava uma carrinha a vender caixas de cerejas à porta do trabalho da
minha mãe quando eu a fui buscar.
Rapidamente ela parou e ficou a olhar (ela adora cerejas) e
perguntou-me “Vamos comprar fruta?”
Eu não sei o que é que esta pergunta inocente desencadeou no
meu cérebro que a minha resposta, ao invés de um simples “sim” ou “não” foi…
“Eu tenho comido imensa fruta.”
Este excerto da
conversa quase que parece ser tirado de uma daquelas piadas em que dois surdos
tentam conversar mas não foi de todo o caso. Ora, após esta afirmação minha, a
minha mãe respondeu “Então e qual é o problema? Não gostas de fruta?”
Aqui, o “sim” saiu mecanicamente, mas as minhas engrenagens
cerebrais continuaram a mexer-se… E apercebi-me que aquela afirmação que me
saiu tão depressa da boca como resposta a uma pergunta básica tinha mais que se
lhe diga.
Eu acho que, lá no fundo, esperava que a minha mãe
concordasse comigo. Esperava que ela dissesse que os morangos e cerejas que
tenho comido são em quantidades exageradas e, portanto, tinha de parar.
Esperava que ela desse razão ao meu receio – aquilo que me
levou a dizer aquela frase.
Internamente, eu estava a avaliar aquilo que comia e a
quantidade que comia. Ainda por cima achava que era demais. Desenvolvi esta
crença interna e só precisava de validação externa para ter a certeza que era
verdade.
Mas o que importa se como 1kg de morangos, ou 1 caixa de
cerejas? Aliás, é mais que evidente que não como essa quantidade de comida,
porque é que eu tenho sempre a sensação contrária? Porque é que isto é sequer
importante?
Mas porquê?
Porque, apesar de tudo, o meu lado doente ainda se manifesta
nas pequenas coisas. Ainda sofro do preconceito do julgamento.
Apesar de já ter um peso saudável e ser capaz de comer de
tudo um pouco, inconscientemente ainda tenho muito presentes alguns medos e comportamentos da anorexia. Continuo a ver a comida como o grande problema do mundo, embora seja capaz de ignorar o óbvio a maior parte do tempo. Ignoro, mas sei que lá está, e eu ambiciono chegar a um ponto em que já não está lá. Mas está tudo bem, porque recuperar não é algo
instantâneo e requer esforço diário e permanente.
E devagarinho, estes pequenos espinhos que ainda estão presentes
vão sendo removidos.
1 comentários
Olá, pois é mas vais recuperar rápido
ResponderEliminarBeijinhos :*
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