[#Recuperação] Os distúrbios alimentares vistos de fora
19.11.20Depois de escrever o parágrafo anterior, tenho de admitir
que não fui honesta. Lembro-me quando andava no secundário – no 10º ano se não
me engano – havia uma menina de uma outra turma que era cheiinha. Nunca falamos
muito, mas estudei num meio pequeno e conhecia-a de vista. Depois das férias do
verão, se não me engano, ela surgiu magríssima na escola – nem parecia a mesma
pessoa. Não me querendo alongar demasiado na historia, e apesar de saber pelo
menos parte do que a levou a este estado, o que é certo é que a anorexia a
dominou com força e acabou por ser internada.
O pior disto tudo foi que, na altura, eu achava aquilo
completamente tolo. Não compreendia como ela tinha levado o seu corpo ao
extremo. Claro que, como qualquer adolescente, já me tinha olhado ao espelho e
visto esta e aquela imperfeição que me incomodava. Também já tinha tentado
incutir uma rotina de abdominais ao fim do dia para ficar de barriga lisa mais
de mil e quinhentas vezes mas a motivação durava dois ou três dias. Mas jamais
pensava chegar aquele ponto.
A verdade é que cheguei aquele ponto.
Os motivos foram outros, certamente. A severidade e o
tratamento também. Aquela menina foi afectada na adolescência, eu já na idade
adulta. Mas agora, depois de passar tudo isto, olho para trás e penso que quem
estava errada era eu.
Errada na maneira de pensar e no julgamento que fiz, por não
tentar perceber. Errada também porque, na verdade, os comportamentos
disruptivos já lá estavam mas apenas sussurravam em vez de gritarem como
deveriam gritar àquela menina da escola, ou gritaram para mim anos mais tarde.
Errada por me ter deixado levar por estes padrões e ideais doentios que estão
impregnados na sociedade, como se fossem fungos e bactérias e vírus a infectar
as comunidades.
A primeira pessoa que realmente conheci com anorexia fui eu.
E por esta razão, não tinha termo de comparação – nem para
definhar, nem para me reerguer. Talvez se aquela menina fosse minha amiga, já
estaria mais sensível para os sinais de alerta, talvez já compreendesse a
doença, talvez já soubesse o que esperar do processo de recuperação. Mas não
era.
Por isso recuperei sozinha.
Com apoio, claro, dos meus amigos e da minha família – mas
eles não percebiam o que eu sentia na verdade porque nunca passaram por isso -,
e da equipa médica que me acompanhou – que me davam apoio profissional. Não
tinha ninguém que me falasse da experiência.
Valeram-me os recursos online – na sua maioria em inglês
porque são escassos em português – e as redes sociais que me fizeram cruzar
caminho com algumas pessoas que, infelizmente, também batalharam.
O que é certo é que quem vê de fora tem uma perspetiva
diferente de quem passa pelas experiências – e eu que o diga. Por isso, a
compaixão e a empatia são essenciais, e os julgamentos devem ser evitados e
banidos. Afinal de contas, nunca sabemos se não iremos enfrentar situações
semelhantes.
3 comentários
Mas por onde anda a minha amiga Patty, que presumo ser Patrícia?
ResponderEliminarEspero que estejas bem, que continues escrevendo sobre o teu principal estado de alma, mas sempre de forma positiva e progressiva. Pois, essa menina não era, provavelmente, compreendida pelas colegas da escola e por outras amigas e tu mesma achavas uma tolice aquela magreza. Contudo, (há sempre um contudo nas nossas vidas), e só depois de entrares no mesmo "barco" percebeste a situação dela. Pois é, ver de fora, é completamente diferente de ver de dentro, aliás, quem está dentro nada vê. Hoje, que estás praticamente curada, entendeste muito bem o que aconteceu a essa menina.
Há novo post no meu blogue. Qdo quiseres e te apetecer, será um prazer receber-te.
Beijinhos e positividade.
A minha irmã teve um início de anorexia quando era adolescente e graças a Deus descobrimos a tempo e conseguiu tratar-se a tempo. E tudo começou por "amigos" na escola. Espero que já estejas bem. <3
ResponderEliminarUm beijinho,
http://myheartaintabrain.blogspot.com/
Quem está de fora raramente sabe o que realmente se passa na cabeça de uma pessoa e o que a leva a fazer isso!
ResponderEliminarBjxxx
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