[#Info] Neurobiologia da anorexia
7.12.20Eu sou Bióloga, e como tal, sou também cientista e eterna
curiosa. Também sou muito racional. Todas estas características levam-me a ter
uma necessidade por vezes quase absurda de descobrir os “Porquês” das coisas. E
isso não é exceção no que toda à minha recuperação.
Enquanto recuperava, li imenso sobre anorexia. Sou um pouco autodidata no que toca ao tema e, apesar de não achar que sou expert, considero que tenho muito conhecimento teórico que pode ser útil a compreender algumas coisas que nos acontecem, para além do que passa pelo nosso consciente, neste processo.
Existem inúmeras hipóteses sobre o porquê de surgirem distúrbios alimentares. A genética, psicologia, neurobiologia, fisiologia, e até o mundo esotérico apresentam teorias sobre a sua origem, progressão e cura.
E hoje venho falar-vos de um neurotransmissor.
A Serotonina!
Certamente já ouviram falar da Serotonina como a molécula da
felicidade. E de facto, este neurotransmissor está diretamente relacionado com
o nosso estado de humor. Um outro aspeto interessante deste componente do nosso
sistema nervoso é que o nosso corpo produz serotonina a partir de um aminoácido
que é o triptofano, que provavelmente já ouviram falar! É um aminoácido que
provem da nossa dieta, e está presente na banana e no chocolate, que também são
alimentos que estão associados à felicidade!
No entanto, a serotonina tem de estar equilibrada no nosso
organismo, caso contrário, podemos facilmente deixar de nos sentirmos felizes.
E é por isso que este neurotransmissor também tem um papel relevante na
anorexia.
Sabem o que acontece quando temos serotonina a menos no
nosso corpo? Sentimo-nos deprimidos, sem energia, tristes, desmotivados… E isto
é conhecido há imenso tempo, e por isso é que muitos antidepressivos atuam
sobre a serotonina.
Por outro lado, quando ela existe em excesso, também tem
efeitos nefastos no corpo – causa ansiedade, pânico, irritabilidade… Coisas
bastante desagradáveis, não é?
E é aqui que começa a nossa “aula”! Quando nos sentimos
ansiosos ou em pânico, a última coisa que nos apetece fazer é comer, não é? Se
esta sensação de ansiedade se prolonga do tempo, existe um decréscimo da
ingestão de alimentos progressiva também.
Isto leva a quê? A uma redução da ingestão do triptofano,
que, por sua vez, leva a uma menor produção de serotonina pelo nosso corpo,
pois como já sabemos, o nosso corpo produz serotonina a partir do triptofano.
Com a diminuição da serotonina, há também uma redução dos
sintomas de ansiedade, pânico e irritabilidade… Ou seja, o nosso corpo
descobriu uma forma natural de reduzir a ansiedade! Nós não temos consciência
disto, mas o nosso corpo tem. Inconscientemente, começamos a ter uma sensação
de controlo sobre as nossas emoções – sem saber muito bem porquê. Assim, de
forma involuntária, algumas pessoas começam a adotar comportamentos alimentares
restritivos para controlar a ansiedade.
“Vou comer menos, pois assim ingiro menos triptofano, logo
os níveis de serotonina decrescem, e a ansiedade brilhante! Isto é fantástico!”
– Pensa o nosso cérebro.
O problema é que esta restrição durante períodos prolongados
leva ao outro lado da moeda. O nosso cérebro começa a associar a comida a esses
sentimentos, e então somos induzidos a comer menos para nos sentir melhor. No entanto, com uma redução acentuada da
serotonina, começam a surgir os sintomas depressivos, e uma vez a depressão
instalada, torna-se difícil dar a volta.
Ou seja, o nosso cérebro está, no fundo, a iludir-nos.
A raiz da anorexia está, muitas vezes, na ansiedade, e este é o porquê. É
também por isso que o problema NÃO É A COMIDA, a comida é o MECANISMO DE
CONTROLO.
Para se recuperar da anorexia, é necessário perceber qual o motivo da ansiedade – seja ele qual for – pois é esse motivo que leva a que este ciclo se perpetue.
As doenças do comportamento alimentar são muito mais
complexas do que um simples “problema com a comida”. É toda uma combinação de fatores
que, no conjunto, nos levam a comportamentos autodestrutivos numa tentativa de nos
sentirmos melhor.
Está nas nossas mãos usar o nosso conhecimento e as nossas
ferramentas para quebrarmos este ciclo. E nós vamos conseguir!
6 comentários
Muito bom! Estamos sempre a aprender <3
ResponderEliminarUm beijinho,
http://myheartaintabrain.blogspot.com/
Há sempre espaço para aprender mais um bocadinho :b
EliminarUm beijinho*
Aprendi muito com este post. Obrigada pela partilha.
ResponderEliminarBeijinhos,
Vanessa Casais
https://primeirolimao.blogspot.com/
Fico feliz que tenha sido útil!
EliminarObrigada pelo comentário :)
Um beijinho*
Olá, Patty!
ResponderEliminarPrometeste e cumpriste: não foi uma aula aborrecida e sim muito interessante.
Como sabes tenho dois filhos (adolescentes). Estes teus textos vão-me dando dicas e fazem-me ficar mais alerta.
Obrigada!
Beijinhos
Liliana
Ideias Recicladas e... não só!
Olá querida Liliana!
EliminarFico muito feliz que este post seja, de alguma forma, útil! Tentei torná-lo o mais interessante possível, tendo o máximo de informação :)
Um beijinho e tudo de bom*