[#Reflexão] Serão mesmo crocodilos? – Uma história para refletir
8.3.19
Imagina que estás numa margem de
um rio com um balde na mão. Desse lado do rio está a tua casa, numa floresta,
mas a floresta está a arder aos poucos, e sabes que mais tarde ou mais cedo a
tua casa será consumida pelas chamas.
Do outro lado, na outra margem,
consegues ver um pote gigante de ouro e uma outra floresta maravilhosa e segura,
mas não há nenhuma ponte e a única forma de lá chegar é atravessar o rio a
nado. Ora, o rio está muito agitado e a água está muito turva. Ainda assim, dá
para perceber que existe algo a mexer-se dentro de água… São crocodilos! E tu
hesitas… Valerá a pena entrar dentro de água para chegar ao pote de ouro? Ou mais
vale usar os balde, enchê-lo água e tentar apagar o fogo e salvar a casa?
Claro que o primeiro ímpeto é
pegar no balde, enchê-lo e tentar manter o fogo longe da casa – atravessar um
rio com crocodilos parece uma sentença de morte, e por muito apetecível que
seja o pote de ouro, de nada serve se acabares a ser a refeição de um animal.
No entanto, as chamas tornam-se mais fortes, o cansaço de carregar baldes de
água fica mais e mais evidente e a casa está na eminência de ser destruída pelo
fogo… E tu dás por ti à beira do rio, a considerar a hipótese de o atravessar.
As chamas acabam por destruir a
tua casa, e ameaçam agora chegar ao pé de ti. Pões um pé dentro de água, mas
esta está gelada. Vês algo a mexer-se e voltas para a segurança da margem. Mas
as chamas aproximam-se cada vez mais. E então voltas a saltar para dentro de
água, desta vez com um pouco mais de confiança. Os crocodilos continuam a mexer-se,
a água continua gelada, e à medida que andas, o teu corpo vai ficando debaixo
de água até não teres pé e a tua única opção é nadar. Voltas a hesitar, pensas
em voltar atrás, mas agora já é tarde. Tens de continuar – tens de esquecer as
correntes, o frio e os crocodilos e nadar. Sem parar, sem olhar para trás. As
primeiras braçadas são difíceis – a corrente é forte, os crocodilos são muitos
e parecem aproximar-se cada vez mais. Mas à medida que te vais aproximando da
outra margem, e continuas a nadar sem parar, apercebes-te que a água parece
mais calma, os crocodilos vão desaparecendo e até a temperatura da água se vai
tornando mais agradável. E quando dás por ti, estás na outra margem, em
segurança.
Sentas-te no chão, respiras fundo
pois o cansaço de teres atravessado o rio cheio de crocodilos é muito. Fechas
os olhos, e quando os voltas a abrir, reparas que te encontras numa clareira
maravilhosa, cheia de luz, de árvores, de passarinhos a cantar. Depois,
observas o rio com atenção. Aquilo que te pareciam crocodilos eram, de facto,
tartarugas, peixes e outras criaturas inofensivas. O fogo continuava a arder lá
ao fundo, mas estás em segurança e, na verdade, nunca tinha havido qualquer
perigo.
Esta história não é totalmente
minha, parte dela foi-me partilhada por alguém que entrou na minha vida para me
ajudar a lidar com algumas situações. E foi justamente para me explicar algumas
coisas que ela foi contada.
A floresta em chama é, no fundo,
a nossa zona de conforto. E quando nós temos algum problema, ela começa a arder
cada vez mais e nós, em pânico, tentamos apagar o fogo. Mas por vezes, tudo o
que temos de fazer é atravessar o rio para nos pormos em segurança de novo.
Todos os nossos rios têm crocodilos – que são as nossas inseguranças, os nossos
medos, as nossas frustrações… Quando estamos perante elas, parecem realmente
crocodilos e muitas vezes enfrentá-los não é, de todo, a melhor opção. Mas nós
humanos somos muito complicados. Ás vezes criamos crocodilos onde não existem e
só nos apercebemos disso quando chegamos à outra margem – ou seja, só depois de
enfrentarmos os nossos medos, inseguranças, frustrações é que somos capazes de
as relativizarmos e percebemos que, se calhar, aquilo que julgávamos ser um
problema enorme afinal não é assim tão grande.
A nossa perceção das coisas é a
real, mas não quer dizer que seja a realidade. Todos nós percecionamos o mundo
de forma diferente e todos nós enfrentamos situações menos boas diariamente.
Por vezes ficamos presos e paralisados, por vezes temos de dar passos pequenos,
outras vezes temos de descansar, mas não podemos ficar à espera que as chamas
nos consumam por não sermos capazes de enfrentar os nossos crocodilos. Temos de
ser corajosos, confiar e continuar e, no fim, haverá sim, um pote de ouro, mas
esse ouro é a nossa liberdade e a nossa felicidade.
Este é um exercício que eu ando a
fazer – enfrentar os meus crocodilos. A minha casa já ardeu, não posso viver lá
mais. Tenho de ir atrás do meu pote de ouro porque lá é que está aquilo que eu
preciso. Os meus crocodilos são muito grandes sabem… e a água está muito fria,
mas decidi que irei nadar até à outra margem porque é o único caminho para tudo
ficar bem!
E vocês? Também enfrentam os
vossos crocodilos?
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