[#Reviews] Tasting Lisboa: Mezze

14.6.19



                A temática dos refugiados e os dramas no médio oriente não são indiferentes para ninguém. É realmente triste saber que as pessoas são forçadas a deixar tudo para trás e embarcar numa aventura em que não sabem se vão sobreviver ou não e, caso cheguem ao destino, se serão aceites e integrados nas comunidades ou não. 
                No entanto, há algumas associações que trabalham para integrar estas pessoas nas comunidades. É o caso da Pão a Pão - integração de refugiados do Médio Oriente, uma associação Portuguesa que usa a cozinha para trazer a população portuguesa a conhecer um pouco da gastronomia destes países. Um destes espaços – provavelmente o mais famoso – é o restaurante Mezze, um Restaurante Sírio! Andava há imenso tempo para visitar este espaço e finalmente tive a oportunidade de lá ir.

                Vamos viajar à Síria?
     
          

O Espaço

                O Mezze fica mesmo no mercado de Arroios, num dos espaços de refeição que rodeia a praça. O espaço em si não é muito grande mas possui 3 áreas definidas – uma esplanada exterior, uma zona com mesas individuais na periferia do espaço interior e uma grande mesa comunitária no meio.
                E por falar em mesa comunitária, Mezze é a palavra árabe para uma mesa com comida para se partilhar. E o Mezze é isso mesmo – um espaço de partilha de comida, de histórias de vida, de culturas e especialmente de reflecções.
                O espaço do restaurante é bastante pequeno, e enche muito rápido dada a popularidade, mas ainda assim não é demasiado barulhento nem confuso – tem uma atmosfera tranquila mas cheia de vida. As mesas e a decoração são bastante simples, havendo apenas destaque para a parede do fundo onde estão expostos vários objetos decorativos e livros – alguns em árabe! – que dão uns apontamentos especiais à sala de refeição. 
                No lado oposto da sala fica a cozinha e aí é possível ver a cozinheira – de hijab a cobrir o cabelo e uma expressão profundamente concentrada – a preparar os pratos que saem a uma velocidade bastante considerável!
                As mesas estão postas de forma simples, mas cuidada e em todas já se encontra o couvert para o caso do cliente querer começar a degustar algumas iguarias deste país!
    
           

A Comida

                Como referi, a ideia do Mezze é precisamente partilhar a comida. E não há nada mais humano e mais português que juntar a família ou os amigos em volta de uma mesa a conversar e a comer… e esta é uma grande semelhança entre Portugal e a Síria. A ementa inclui alguns menus – Os Mezze – com uma colectânea de pratos típicos, mas há também a hipótese de pedir à la carte.
                Nós optamos por pedir á la carte mas começamos primeiro por provar o couvert – pão sírio frito com azeitonas e umas bolinhas de iogurte com especiarias. O pão sírio era extremamente crocante e, apesar de frito, não parecia muito gorduroso. Mas o interessante mesmo foram as bolinhas de iogurte – eram realmente semiesferas sólidas, com uma camada exterior de especiarias. O seu sabor era mais semelhante a queijo que a iogurte mas era muito bom e o contraste com as especiarias combinava divinalmente!
                Depois, tivemos de experimentar o Fatayer… na verdade os três Fatayer. “E o que é isso?” Perguntam vocês! São a versão Síria de empadas, apesar de visualmente parecerem chamuças! No menu havia 3 opções de recheio – tomate, espinafre ou carne de vaca – e como uma pessoa não consegue decidir, provou-as todas! A massa exterior é muito diferente da das nossas empadas tradicionais: a parte exterior é bem crocante mas por dentro é super fofinha, como se fosse pão. Um detalhe interessante é que, todas elas têm um formato diferente para ser possivel distinguir os diferentes recheios. E falando em recheio… confesso que não consigo decidir qual das três a melhor, pois eram todas bastante cheias de sabor! O único pormenor que tenho a apontar é que o Fatayer é servido frio e eu acho que quentinhas seriam ainda melhor! Mas isto é só a minha modesta opinião…
                Passando para o Kibbeh, são uns bolinhos feitos com uma mistura de carne de vaca e bulgur, temperadas com muitas especiarias! Já tinha experimentado uma versão caseira destes mas esta não ficou nada atrás! Confesso que se calhar ainda foi melhor! De certeza que estes bolinhos são fritos em óleo mesmo muito quente pois a casquinha de fora fica bastante dura mas o centro é muito suave. O sabor não é muito intenso, pelo que para quem não gosta de comida muito condimentada é uma excelente opção! Além disso, os bolinhos são bem grandinhos!
                Uma ida ao médio oriente exige que provemos um classico que todos conhecem – o Falafel! São os típicos bolinhos de grão e especiarias bastante populares. No entanto, a versão que eu provei anteriormente e que conheço são literalmente bolinhas cujo interior é verde pois, se não me engano, contêm espinafres! Estes, por outro lado, têm formado de disco (são tão bonitinhos!) e são da cor do grão-de-bico no seu interior. Mas não é por isso que não são maravilhosos… Ah pois não! Vêm servidos com um molho de iogurte com especiarias (não consegui identificar qual era…) que é o complemento perfeito para este falafel!
                Uma estreia para mim foi o Yalanji – basicamente é arroz, tomate e salsa embrulhado numa folha de videira e temperado com azeite e especiarias. Nunca antes tinha provado e confesso que fiquei com alguns mixed feelings. O sabor é um pouco azedo demais para mim – faz-me lembrar o sabor das azeitonas e eu não gosto muito de azeitonas – mas ainda assim havia algo de agradável lá no meio! Penso que o sabor mais forte e mais estranho seja da folha em si pois o recheio pareceu mais delicioso!
                Para completar os nossos mezze, pedimos algo mais fresco – o Tabbouleh! Também muito conhecido, esta salada de bulgur, tomate, cebola, salsa e hortelã dá aquele toque refrescante que a refeição pede. No entanto, para mim que já experimentei tabbouleh antes, achei que este tinha uma proporção de salsa demasiado elevada, o que fazia com que os sabores dos outros componentes passassem muito para segundo plano.
                Por fim, como não podia deixar de ser, tivemos de experimentar as sobremesas… e acabamos a pedir duas e ambas foram surpresas, mas por razões diferentes. Primeiro vou-vos falar da Harisa, um bolo feito com sémola de trigo e amêndoas, banhado de uma calda de açúcar. Primeiro tenho de dizer que a porção é do tamanho ideal para uma pessoa comer sozinha ou partilhar – como foi o caso. Depois tenho também de acrescentar que vocês TÊM. MESMO. QUE. PROVAR. ESTE. BOLO. É maravilhoooooso. Confesso que não tinha grandes expectativas mas… bolas, é mesmo bom! Só de pensar nele ate salivo. Apesar de levar calda de açúcar, não é excessivamente doce, e é essa mesma calda que lhe dá uma textura divinal – aquela que fica entre o bolo e o pudim e o faz ficar húmido por dentro mas ainda assim desfazer-se em migalhas na boca. E as amêndoas acrescentam-lhe um toque crocante e um extra de sabor que nem sei descrever… é só assim delicioso!
                Por outro lado, provamos a Balouza – um pudim em camadas com a parte de baixo de leite a de cima uma espécie de gelatina de laranja, decorado com amêndoa tostada – e infelizmente não consigo falar com o mesmo entusiasmo desta sobremesa. Isto porque ao dar a primeira colherada nesta sobremesa houve algo que me saltou logo à memória – o sabor do xarope Brufen. Não é que o xarope Brufen saiba mal – até era dos meus favoritos. Mas ninguém quer uma sobremesa a saber a xarope! À segunda colherada, o sabor deixou de parecer a xarope e começou a parecer aqueles sumos de laranja em pó… e como tal a coisa não melhorou. Depois tentei desconstruir a sobremesa e provar apenas a parte de baixo – tarefa difícil mas lá tentei – e realmente o creme de leite que estava por baixo era muito bom… mas confesso que, no todo, não gostei muito deste doce.


O Serviço

                O Mezze é um negócio gerido por uma família Síria – corrijam-me se estou em erro – e por isso todos os funcionários são nativos de lá. No entanto, falam português perfeitamente! Fomos atendidos por diferentes pessoas e o grau de empatia com o cliente variou entre elas, mas nunca foram pouco cordiais ou arrogantes! A questão é que quando um espaço daqueles enche e, considerando que os pedidos estão constantemente a chegar e a sair, é difícil dar mais atenção a cada cliente individualmente e manter o serviço rápido e eficiente.
                Isto porque… O Mezze é realmente um restaurante eficiente. Uma vez que os pratos são para partilhar, as pessoas estão constantemente a pedir novas iguarias e, portanto, há sempre movimentação de comida tanto no espaço interior e na esplanada. Fiquei surpreendida com a capacidade da Chef de gerir tudo aquilo, aparentemente sozinha, com uma concentração e serenidade exemplar!
               

Para terminar…

                Se excluirmos a comida, o Mezze já de si é um sítio inspirador para se visitar, devido à história, ao contexto e à componente social que abraça. Se considerarmos a comida… bem então não vejo porque é que não vão lá porque a comida é realmente muito boa!
                Comida essencialmente caseira de qualidade, bom serviço, bom conceito, e um espaço agradável… que mais se pode pedir? Além disso, os preços são razoáveis e ainda têm oportunidade de desfrutar um prato grátis com o Zomato Gold! 
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E aí, vão experimentar??


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