[#Recuperação] 6 meses da maior mudança da minha vida

21.8.19


                Dia 20 de Fevereiro de 2019 estava a celebrar o meu aniversário, mais concretamente o meu quarto de século, junto com dois grandes amigos (dia em que tirei a foto acima). No dia seguinte, 21 de Fevereiro, há precisamente seis meses, a minha vida ia mudar drasticamente.
                Foi no dia 21 de Fevereiro que os meus pais me levaram ao médico. Quando entrei naquela clínica especializada em doenças do comportamento mental eu já sabia o que tinha, mas na verdade ainda não tinha aceitado que não era capaz de superar o problema sozinho. Por isso, estava revoltada, zangada, triste… Mas aquele empurrão foi mesmo necessário. Tive uma consulta com um psiquiatra – “estava oficialmente maluca” disse eu – e foi o primeiro abrir de olhos, não só para mim como para os meus pais. Anorexia nervosa era o diagnostico, mas isso já todos sabíamos.

                Três grandes coisas aconteceram naquela consulta. A primeira foi que um profissional de saúde me disse na cara que, se as coisas não corressem bem num curto espaço de tempo eu acabaria por ter de ser internada – a coisa que eu mais temia. A segunda foi o grande balde de água fria: tinha de começar a tomar medicação, anti-depressivos para ser mais precisa – e esta era a segunda coisa que mais temia. Por fim, o terceiro acontecimento foi saber que, daí para a frente, não iria ter de enfrentar isto sozinha, pois iria estar a ser acompanhada por ele, por uma psicóloga e por uma nutricionista. Foi também nesse dia que tomei a primeira decisão definitiva que ainda mantenho até hoje e que vai contra o que está estipulado na sociedade: Deixei de ir ao ginásio.
                Anorexia nervosa não é uma doença física, é uma doença mental com manifestações físicas, e graves. Ter consciência disso para mim, naquela altura, era sinónimo de loucura. Lembro-me do meu psiquiatra dizer que a anorexia não é doença dos fracos porque “forte mesmo é quem resiste à fome e luta contra os seus instintos naturais”. De certa forma tinha razão, mas eu diria que a anorexia é a doença dos que são fortes por muito tempo a lidar com outras questões da vida e acabam a agarrar-se a este “vicio” para sentirem que têm controlo sob alguma coisa – ou pelo menos é isso que sinto.

                Desde esse dia seis meses se passaram. Felizmente não foi necessário recorrer a hospitalizações e agora posso dizer com quase 100% de certeza que já estou livre desse perigo – apesar de ainda não estar curada. Posso dizer também que está a ser um processo penoso, difícil e cheio de momentos complicados, em que parece que estamos constantemente a remar contra a maré, ou contra os ideais que a doença nos fez acreditar durante tanto tempo. Isto é um verdadeiro desafio e que eu ainda não consegui superar na totalidade. O processo acaba por nos fazer sentir muitas coisas em simultâneo, contraditórias, faz-nos questionar sobre tudo aquilo que fazemos e o porquê de o fazermos, leva-nos ao desconforto… E este é bem maior durante a recuperação do que antes.
                Mas vale a pena. Neste tempo recuperei o sorriso. Recuperei as emoções, a energia. Recuperei a vontade de socializar e de partilhar. Voltei a sentir empatia pelos outros. Aprendi a não julgar – pois nós não sabemos o que o outro está a passar. Comecei a relativizar muitas situações, a deixar de dar valor a outras. Comecei a controlar o perfeccionismo e tenho tentado ser menos exigente comigo mesmo e a perdoar-me quando erro. Voltei a viver e não a simplesmente existir.

                Ainda tenho um longo caminho pela frente. A viagem ainda não acabou, e as dificuldades também não terminaram mas sei que se consegui fazer este processo até agora, conseguirei até ao fim. Voltar atrás não é opção.

                Com isto quero também dizer que não há nada de errado em pedir ajuda. Eu achei-me maluca por ter de recorrer a um psiquiatra, agora acho-me maluca por não o ter feito mais cedo. Nós não temos de passar pelas dificuldades sozinhos. Nós não temos de aplicar um auto-julgamento por sofrermos de uma doença mental, ou de uma doença física, ou de emoções negativas. Não há nada de errado nisso. Pedir ajuda é um sinal de força e de humildade… e é também um sinal de amor por nós próprios. Não podemos desistir de nós. Não podemos desistir.

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1 comentários

  1. É bom sentir, e sentir é algo que não é físico, pertence também ao mundo das emoções, aquelas a que damos tanta atenção e que por vezes nos trazem situações que não controlamos, mas é muito bom sentir que estás a RENASCER. PHENIX. não é necessário controlar, temos que deixar fluir. És o nosso amor.

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