[#Reflexão] Como assim, fazes reviews de restaurantes?

27.4.20

 
             Tenho saudades de partilhar um review de um bom restaurante convosco. Muitas mesmo. E na verdade, ainda tenho alguns escritos nos rascunhos daqui do Blog, que visitei no final do ano passado e início deste ano.
               Mas não faz sentido partilhar algo desse neste momento. Estarmos confinados em casa como medida de segurança para o COVID-19 impede-nos de ir degustar coisas deliciosas em espaços fantásticos. Por outro lado, os próprios restaurantes estão fechados. Por isso, estes reviews vão ficar fechados na gaveta até podermos passear na rua.
               No entanto, isso fez-me pensar noutra coisa… Como é que raio alguém que tem um passado de distúrbio alimentar, do qual está a recuperar, tem um Blog onde partilha experiências gastronómicas!?
               Se vocês alguma vez se perguntaram isto… não estão sozinhos, porque eu também.
               A verdade é que se há algo que alguém com um distúrbio alimentar restritivo tem, é capacidade de desfrutar de uma boa refeição. E sabem porquê? Porque têm fome p’ra caramba!
               Acredito que muitos bons reviews eu escrevi foram precisamente nessa altura. Uma ida ao restaurante, para mim, era quase um ritual, preparado com uma antecedência invejável, em que todos os pormenores estavam estudados. Vou-vos levar neste ritual que tem tanto de curioso como de pouco espontâneo.
               Começava por um estudo intensivo, em que o meu manual era o Zomato. Passava várias horas a explorar diferentes restaurantes, não só em busca de bons negócios e gastronomias diferentes, como também a encontrar algo que não incomodasse demasiado a minha parte doente.
               Caso encontrasse algo que cumprisse esses requisitos, o passo seguinte era estudar criteriosamente o menu. E isto passava por ler e reler todos os pratos, desde as entradas às sobremesas, para analisar aquilo que me despertava a curiosidade, aquilo que me assustava e que não iria experimentar (“oh é muito doce… oh é muito gordoroso”), e aqueles pratos que eram seguros e que, em caso de pânico, poderia escolher. Via também as fotografias para estudar o tamanho das porções e os detalhes que não eram colocados no menu.
               Se, após aplicar este filtro, o restaurante passasse, fazia a reserva. MAS, uma vez que esta reserva tinha, no mínimo, 2 semanas de antecedência, havia sempre a probabilidade de, nessas duas semanas, eu mudar de ideias.
               Depois deste processo de seleção altamente rigoroso, chegava o dia D. Depois de todo o período de reflecção até ao dia da ida ao restaurante, eu já sabia o que queria comer. Na verdade, o mais provável é que já soubesse o que ia comer há dias e não parasse de pensar nisso. Em simultâneo, as minhas restrições alimentares (numa tentativa sem sentido de “compensar” o que iria comer) já tinham começado dias antes, o que aumentava o meu desejo por aquela comida em especial que magicava à dias.
               Curiosamente o momento em si, que passava nos restaurantes, era muito bom. Conseguia estar tranquila q.b, desfrutar da comida, comer com calma, saborear e degustar, provar de tudo (mas sem nunca comer muito, na realidade), e daí (modéstia à parte) os meus reviews serem bastante detalhados e realistas.
               Mas por outro lado, se pensar bem e refletir no assunto, a experiência não era espontânea, e eu não ia, de facto, à descoberta. O que eu fazia era, no fundo, comprovar expectativas que tinha construído durante semanas, e que, felizmente, foram na sua generalidade positivas. Nem era uma experiência boa no seu todo – era obsessiva, causava-me ansiedade… Era muito desconforto para uma hora ou duas de prazer que originavam, depois, mais desconforto e medo.
               A verdade é que isto mudou.
               O distúrbio alimentar levou-me a experimentar coisas maravilhosas, gastronomias do mundo, coisas que eu julgava não gostar e que afinal gosto.
Mas isto é tão mais divertido de se fazer quando se vai realmente à descoberta. Quando não se estuda o menu e se escolhe o restaurante em cima da hora. Ou quando se pede a alguém para escolher por nós! É tão bom ser-se realmente surpreendida na positiva por um prato bom, do que experimentar um restaurante como se fosse uma cena de telenovela – seguindo um guião já conhecido.
Felizmente, os meus últimos reviews têm sido assim! Verdadeiramente de improviso! E penso que assim ainda são melhores!
E vocês? Têm gostado dos reviews aqui do blog?

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1 comentários

  1. Eu sou uma trituradora em forma de gente pelo que, mesmo em confinamento, continuo a ler e escrever sobre comida. Na verdade, há restaurantes que continuam abertos em regime de take-away, e valha-nos santo Uber Eats. Tal como tu, fiquei na dúvida e com alguns rascunhos na calha. Como já vi que não voltaremos aos restaurantes tão depressa, creio que vou optar por publicar. Entre os sítios dos quais tenho saudades e a lista dos lugares a visitar, acho que continua a vale a pena fazer reviews de restaurantes e falar de comida :D Beijinhos

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