[#Reflexão] Será que sou capaz de cuidar daqueles que amo?

9.7.20

A minha Luna ficou doente, como contei no post anterior. Quando veio para casa, depois de ter alta pela primeira vez, estava frágil, ainda muito debilitada da forte anemia que a afetou, e com um tratamento pesado e prolongado para fazer. Rejeitava a comida, estava visivelmente cansada, cada vez que olhava para a sua magreza extrema, o meu coração partia.

A verdade é que aquela alegria que eu senti quando a trouxe para casa depressa se tornou num medo intenso quando a vi a andar devagarinho e de forma muito debilitada pela casa. Não sabia o que fazer, e acho que a minha cabeça entrou no modo “fight or flight” em que o “flight” era a opção mais apetecível.

Durante toda a minha vida, sempre tive muita dificuldade em lidar com situações de doença. Isto talvez se deva ao facto de, felizmente, ninguém da minha família ter tido nenhuma doença grave ou prolongada, que exigisse tratamentos complicados, e quando havia alguma situação mais critica, eu era sempre superprotegida. Quando os meus familiares foram hospitalizados por estarem doentes ou devido a cirurgias (nas poucas ocasiões que isso aconteceu), raramente fui visitá-los, e quando fui, já tinham um quadro bem mais positivo do que quando entraram lá. Até quando vou ao lar visitar a minha avó paterna, evito aproximar-me ou olhar para os velhotes que estão mais frágeis.

A verdade é que a doença me causa medo. Um medo absolutamente irracional, que me deixa paralisada. Se puder evitar lidar com ela, evito a todo o custo. Isto pode parecer cruel, mas eu prefiro não ter de lidar com isto, ou lidar a uma distância segura, a enfrentá-la.

Esta foi a minha resposta automática quando vi a Luna no seu estado mais frágil. Eu queria fugir, eu não queria ter de lidar com aquilo.

Isto faz de mim uma besta? Provavelmente.

Não sei se serve de desculpa, mas eu amo tanto esta gata, como amo tanto o meu avô ou a minha avó (ou outro familiar que tenha sido hospitalizado ou que tenha passado por uma situação de fragilidade deste tipo), amo tanto que o facto de os ver em sofrimento me bloqueia completamente. O facto de haver a ínfima hipótese de o processo de doença/cura acabar no pior cenário possível causa-me ansiedade extrema. Por sua vez, tudo isto me leva a entrar em negação, o meu cérebro entra em curto circuito e eu sou incapaz de reagir. Não consigo lidar com estas emoções. Paraliso.

Tudo isto me leva a crer que eu sou incapaz de cuidar de um ser vivo. Porque a doença faz parte da vida, e é precisamente quando passamos por este estado que mais apoio precisamos… E parece que eu sou incapaz de dar esse apoio.

A verdade é que, no final do dia, a muito custo consigo colocar todos estes entraves e, em caso de necessidade, ponho a mão na massa. Mas se puder evitar, evito.

Tudo isto me faz sentir uma pessoa terrível. Só o facto destas coisas me passarem pela cabeça e estas emoções e sensações me percorrerem o corpo fazem-me crer que eu não nasci para cuidar, pois o medo me impede de o fazer.

Preciso mesmo de trabalhar nisto.

 

PS: A Luna já está em casa a recuperar bem :)

Também podes gostar

5 comentários

  1. Sei tão bem como te sentes. O sentimento de impotência perante o sofrimento de alguém que amamos tanto... Chamo alguém porque os nossos Pets para mim são membros da família. A minha kally foi diagnosticada com epilepsia refrataria, um tipo de epilepsia das mais graves porque é resistente à madicacao. Um beijinho muito grande para ti e para a Luna. @belinha_nutri

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É realmente uma dor no peito quando os nossos pequenotes estão doentes... eles são parte de nós - são familia!
      Espero que a tua pequena esteja melhor! Mesmo que o prognostico não seja o melhor, há sempre algo que pode ser feito :)
      Um beijinho cheio de gratidão e muita força para ti também *

      Eliminar
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  3. Olá Patty,

    Eu acho que sim, que serás capaz.
    Estás na casa dos teus pais e tens quem faça isso por ti. Se estivesses sozinha irias ficar surpreendida contigo. Digo isto porque "...em caso de necessidade, ponho a mão na massa…".
    Os teus receios habitam em ti e isso é normal. Todos nós os temos mas, quando não temos ninguém que nos "deite a mão" nem nos lembramos dos receios e agimos por instinto.

    Aliás, dar amor, conforto, alimentação, … também é cuidar. Então, definitivamente, tu cuidas daqueles que amas. 😊

    Fica bem!
    Beijinhos
    Liliana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Acho que quando escrevi esta publicação estava realmente a passar por um periodo de grande frustração e algum desespero... O que é facto é que tens toda a razão. Se eu tivesse sozinha e "tivesse de ser" não ia ser o desespero que me ia impedir de encontrar uma solução. Iria fazer tudo o que conseguisse para resolver o problema.

      Muito obrigada pela força e por me relembrares dessas coisas importantes <3

      Um beijinho grande *

      Eliminar

Podes gostar de...