[#Recuperação] Retomando velhos hábitos alimentares (sem paranóias)

16.7.20

Uma das coisas mais irracionais que é transversal a muitas pessoas são as fobias alimentares – aqueles medos que são auto-impostos por influência da sociedade e que nos levam a evitar determinados alimentos pois são rotulados de “maus”.

Para alguém que tenha um distúrbio alimentar restritivo – desde anorexia a ortorexia entre outros – estas fobias alimentares são o pão nosso de cada dia. A verdade é que se analisarmos friamente e mantendo apenas o nosso lado racional a trabalhar, são absolutamente ridículos – porque raio é que o inimigo numero na luta contra a obesidade é o pão se faz parte da nossa alimentação há mais anos que a obesidade é um problema?

No meu caso, desenvolvi várias fobias alimentares ridículas: a toda e qualquer fonte de hidratos de carbono, a bananas, a gorduras no geral, e ao queijo. O que é que todos estes alimentos têm em comum, no meu caso? Ainda hoje são comidas que me causam algum desconforto, apesar de as comer. E mais, excluindo as gorduras, todos esses são alimentos que eu gosto mesmo. Hoje venho-vos falar do queijo.

Lembro-me perfeitamente da minha avó se meter comigo porque eu comia sempre mais queijo que pão, e isso não podia ser! Comia queijo à guloseima, de qualquer tipo, sem qualquer preconceito, sem medos – em suma, sem pensar muito no assunto. Além disso, eu nunca gostei muito de sopa (apesar de agora gostar bastante!), mas sabia-me muito bem comê-la acompanhada de pão com queijo e eu tenho a certeza que esta combinação foi a mais frequente dos meus jantares durante a minha infância e adolescência.

Mas quando fiquei doente, comecei a limitar o meu consumo de queijo, de forma inocente, porque na verdade “eu comia demasiado”. Depois, comecei a optar pelas versões com menos gordura “porque eram iguais aos outros e podia comer mais” (mentira, sabiam pior, eram mais caros e eu não comia mais, muito pelo contrário). Por fim, aboli completamente este alimento da minha dieta, ficando só com os queijinhos da vaca que ri e o queijo fresco, todos eles light, todos eles consumidos de forma muito moderada… e dos restantes queijos ficou apenas a saudade e o medo.

Superar este medo irracional e ridículo tem sido um desafio. Tudo isto porque eu QUERO comer, mas não CONSIGO porque o MEDO me impede. Porque o meu intimo acreditava que assim que começasse a comer, não iria parar, e eu não queria lidar com essa culpa.

Até que houve uma noite em que estava à mesa com os meus pais, durante a quarentena, e o jantar era sopa. A minha mãe tinha comprado um queijo limiano, daquele da casca rosa, e eu andava a namorá-lo à distância. Nesse dia decidi arriscar. A acompanhar a sopa, comi uma fatia de pão (uma fobia alimentar) e uma fatia generosa de queijo (outra fobia alimentar). E sabem o que aconteceu?

Soube-me à infância.

E não, não comi o queijo inteiro. Comi mais uma fatia e depois fiquei satisfeita, feliz e orgulhosa de mim.

Agora, claro que isto parece algo absolutamente ridículo, em especial por quem nunca passou por este tipo de perturbações. Mas isto é real. E interfere e muito no dia a dia das pessoas. No entanto, a lição a tirar desta história pode-se aplicar a tudo e a todos, em qualquer desafio.

 Tens medo? Não faz mal. Desafia-o. Conquista-o.

 No fim, vale a pena.

 


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3 comentários

  1. Olá, querida Patty!

    Espero que estejas bem, tal como a tua Luna.

    Li este post e o anterior em que falas sobre alimentação e gostei muito de ambos.

    Estás cada vez mais mulher e a enfrentar os teus medos, que ainda existem, embora pequeninos.

    Tu comias como eu comia na infância pão com queijo às refeições. Era vulgar, normal, e não só com queijo, com linguiça ou presunto, tb se aceitava mto bem, mas eu sempre fui uma "maluquinha" por queijo, seja de que tipo fosse. Bebi leite e derivados anos a fio, e o Gastroenterologista que me segue disse-me que as alterações das análises relativamente ao fígado são fruto dos meus excessos em leite e queijos. Fiquei pasmada!
    Disse-me ainda que as cirroses hepáticas podem surgir devido a 3 fatores:
    1 - Por excesso de bebidas alcoólicas, o que não é o meu caso, pois nunca bebi uma gota de álcool.
    2 - por se beber ou ter bebido mto leite e seus derivados (desconhecia, completamente).
    3 - naturalmente, por deficiência hepática, que é o meu caso.

    Evidente que há uns 3/4 anos e por intolerância à lactose, devidamente comprovado por análises ao sangue, deixei de beber leite normal e comer queijo normal e passei a comprar sem lactose. Olha, nada de nada, pke os alimentos sabem-me pior e tenho náuseas na mesma, portanto aquilo que tu dizes é pura verdade.

    As lojas celeiro têm feito fortunas com este tipo de coisas e há pessoas que continuam a acreditar nisto e naquilo. O médico que dá consultas através do Celeiro já tem uma certa idade e continua a trabalhar. Há uns anitos colocou o filho "também ao barulho" -rs, pke isto dá mto dinheiro.

    Adoro pão, como deves calcular, pke, como sabes, sou do Alentejo, mas só como ao pequeno-almoço, pke a diabetes é uma realidade e eu tenho toda a tendência para ela. Não tenho/tive ninguém diabético na família. Os meus pais morreram relativamente cedo, tal como tios e tias, portanto só tenho primos e primas.

    É bom que se desmistifiquem estes mitos e coisinhas que não têm qualquer fundamento.

    Beijinhos e bom final de semana.

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    1. Olá querida Céu!

      Felizmente a Luna está a recuperar bem e, como tal, eu também já ando bem mais tranquila :)

      Mais uma vez fico super contente e grata pelo tempo que dedicas a escrever-me, sempre trazendo questões tão pertinentes.

      A nutrição é um autentico negócio. Infelizmente durante o tempo em que andava doente e o meu peso estava minimo, fui a duas nutricionistas que me fizeram planos alimentares ridiculos e nada adaptados à minha situação, inclusivamente me sugeriram tomar suplementos de uma marca desportiva muito conhecida - claramente só faltava darem-me o codigo de desconto. Depois fui encaminhada para uma psiquiatra que é a melhor "profissional no campo das doenças do comportamento alimentar" (palavras dela, não minhas) que ela propria tomou as rédeas do meu plano alimentar mas não me deixava escolher entre comer uma bola de mistura ou duas fatias de pão. Considerando que eu tinha um problema de restrição alimentar, parece-me muito evidente que este plano tinha tudo para dar errado pois ele próprio me restringia. E depois de muitas voltas conheci a equipa que ainda hoje me acompanha, e a minha nutricionista de agora é realmente uma profissional decente, e um ser humano maravilhoso!

      Dito isto... acho que não há ninguem que conheça o nosso corpo melhor que nós e portanto, a menos que existam patologias graves, acho que nós devemos ter o poder de escolher aquilo que nos faz bem ou mal. E temos o dever de nos educar para não sermos enganados neste mundo que é o negócio da alimentação.

      E termino a repetir a tua frase: "É bom que se desmistifiquem estes mitos e coisinhas que não têm qualquer fundamento." porque é bem verdade e resume tudo na perfeição!

      Um beijinho e bom resto de fim de semana! *

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    2. Olá, querida Patty!

      Ainda bem que a tua Luna está a recuperar mto satisfatoriamente.

      Passei por cá para ver se me tinhas respondido, e acertei em cheio.

      Nestes negócios de doenças alimentares, chamemos-lhes assim, há "verdadeiras raridades", e quem está doente e precisa é que anda à toa, mas felizmente que tu és inteligente.

      Beijinhos e resto de bom domingo.

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