No outro dia, estava sentada no sofá a ver uma série e tive de me levantar para ir fazer algo, já não me lembro o quê, à cozinha. Quando regressei, os meus olhos caíram em cima de um pote de amendoins que estava em cima da bancada.

Fiquei com vontade de jogar a mão ao pote e tirar um punhado deles para petiscar enquanto continuava a ver televisão, mas depressa este pensamento inocente para a maioria dos mortais se tornou uma discussão interna para mim.

“Porque vais comer amendoins agora, se almoçaste há pouco mais de uma hora? Qual é a necessidade? Tu nem tens fome… E agora vais tirar um punhado de amendoins, depois vens buscar outro e outro… E não paras! Ainda por cima os amendoins são super calóricos… Tu não precisas disso.”

E é verdade. Eu não precisava de comer aqueles amendoins. Mas apetecia-me.

A anorexia ditou, na minha vida, quando, como e o que devia comer em cada dia. Quando estava pior, assemelhava-se a um horário da escola… muito detalhado e nada flexível. Se só tivesse oportunidade de lanchar às 17h30 e a hora de lanchar estava planeada às 17h00, já não lanchava. Era, literalmente, uma falta injustificada, e teria de esperar até à “aula” seguinte para ter permissão para “entrar na sala”, ou por outras palavras, comer.

Comer amendoins fora da refeição era impensável – se eu já tinha comido o suficiente para me aguentar até à próxima refeição, não eras necessário sucumbir àquele pequeno prazer.

Mas a verdade é que nós não fazemos coisas apenas por necessidade.

Também fazemos por prazer.

Quando escolhemos ir passear à rua e apanhar um pouco de ar fresco, não o fazemos por necessidade, é um prazer. Quando decidimos pintar, escrever, bordar… não é necessidade, é prazer. Quando tomamos um banho no mar… sim, adivinharam, não é necessidade é prazer.

O mesmo se aplica à comida. Podemos não ter fome, podemos ter acabado de almoçar ou de jantar, mas se nos apetece – por que razão for – aquele punhado de amendoins, aquele quadrado de chocolate, aquele pedacinho de bolo, aquela peça de fruta… porque é que não podemos comer?

A verdade é que à primeira vista, o prazer não parece uma necessidade, mas contribui para o nosso bem-estar e esse, sim, é uma necessidade. Logo o prazer é indirectamente uma necessidade também.

Tão importante é cumprirmos as nossas necessidades básicas – alimentação, descanso, actividade física – como contribuir para o nosso bem-estar – com os nossos hobbies, e os nossos pequenos prazeres.

Além disso, muitas vezes quando somos inflexíveis com estes pequenos prazeres alimentares, acabamos inevitavelmente a pensar nesse alimento, quase que obcessivamente. Resultado? Provavelmente quando nos permitirmos a comer esse alimento, iremos ingerir uma porção maior. O QUE NÃO FAZ MAL! Mas provavelmente vai mexer com os nossos macaquinhos do sótão e fazer um efeito ainda pior.

Moral da história? Se te apetece algo, come. Não inventes desculpas de horários, calorias e blablablas. Come.

E sim, eu comi os amendoins!