[#Recuperação] (Voltar a) Ter um corpo de mulher e aceitá-lo como é
23.7.20Mas na realidade eu nem me importava. Ser mulher, na sua
plenitude, não estava na minha agenda. Eu não sabia o que era – deambulava,
existia, sobrevivia, mas não me preocupava em ser pessoa, ser filha, ser
mulher.
Se não fosse o meu cabelo comprido, passava bem por uma
criança subnutrida, independentemente do sexo.
Por vezes, quando entrava naqueles momentos compulsivos de
exercício e me punha a fazer flexões, conseguia espreitar por dentro das camisolas pela gola – pois até
mesmo um XS me ficava grande – e via aquele local onde outrora residiam aquilo
que outrora era uma marca da minha feminidade como dois balões sem ar,
descaídos, duas pregas de pele. E tinha um laivo de consciência, e ia ver-me ao
espelho. E o que via? Não, não eram ossos, mas sim como na barriga ainda
conseguia segurar uma prega de pele que me soava a gordura. E só pensava
naquelas 3 colheres de nutella que tinha comido pois o meu corpo estava tão
sedento de energia que me enviava impulsos impossíveis de controlar.
E lá estava eu, a residir num mundo paralelo, sem ter noção
alguma da realidade.
Quando, após começar a ganhar peso, comecei a notar o
aparecimento de formas e curvas no meu corpo, senti um misto de sentimentos. Comecei,
aos poucos, a sentir-me novamente uma pessoa, uma pessoa com dois cromossomas
X. No entanto, o corpo feminino não é naturalmente isento de gordura, e todas
as nossas curvas, tão belas, têm um pouco dela. É natural, é humano, é belo –
mas fazia-me sentir nostálgica do tempo em que não tinha dobras ou pregas, que
era lisa.
Via-me ao espelho e estranhava os traços que via – passei
tanto tempo a contar costelas, vértebras e outros ossos ou ossículos que agora
ver linhas curvilíneas a cobrir esses detalhes me deixava à beira de lágrimas.
Sentir as coxas a roçarem enquanto caminhava, ou as dobras da minha barriga
sobre o elástico das calças ao sentar-me eram motivos para ficar de mau humor,
frustrada, ou profundamente infeliz.
Como é que dei a volta a isto? Como resisti à tentação de
cair em hábitos antigos para voltar aquele corpo magro? Como não sucumbi a esta amargura que este novo
corpo me trouxe?
Racionalizei, senti o que tinha de sentir, mas, sobretudo,
escutei o meu corpo.
Ouvi-o a dizer que não queria mais sofrimento, tortura ou
dor.
Ouvi-o a implorar para não o deixar passar fome.
E assim o fiz.
A magreza que é tão idolatrada por uma sociedade recheada de
ideais irrealistas não é natural. Tira-nos muita coisa… tira-nos o cálcio dos
ossos ou as fibras dos músculos, tira-nos a força do nosso coração, ou a
capacidade de respirar corretamente. Tira-nos a capacidade de gerar um filho.
Tira-nos a nossa saúde, a nossa energia e o nosso bem-estar. Tira-nos o
sorriso. Tira-nos a vida.
Será que vale a pena prescindir disso tudo, só para se ser
magra?
12 comentários
Não, não vale a pena.
ResponderEliminarTu estás no caminho certo e esse caminho é seguir em frente pela estrada que escolheste lá atrás na encruzilhada. Quando alguma dúvida te povoar o pensamento, pensa sempre que estás numa estrada sem espaço de manobra para fazer inversão de marcha.
Fica bem!
Beijinhos
Liliana
Nem mais.
EliminarAndo a fazer o melhor que consigo :) Partilho as minhas experiências na esperança de tocar alguem :)
E estamos sempre a tempo de mudar se não estamos na estrada certa!
Beijinho grande*
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
EliminarOh minha querida, o que vale a pena é tu te amares e cuidares do teu corpo como sendo ele o bem mais precioso da tua vida. Já li praticamente o teu blog.
ResponderEliminarGostei muito, principalmente quando escreves sobre ti, é tão importante partilhares com o mundo a tua história, certamente há muita gente a procurar informação, motivação e aqui vão certamente encontrá-la. És adorável.
Beijinho grande.
��♥️
Ow... Nem imaginas o quão feliz as tuas palavras me fizeram agora. Muito obrigada de coração!
EliminarEspero que consiga fazer isso mesmo - ajudar alguém que precise :)
Um grande beijinho e cheio de gratidão*
Adorei o texto, de facto não vale a pena. Somos como somos, temos que nos aceitar para sermos felizes e aproveitar a vida. És linda :)
ResponderEliminarBeijinhos
Simple World By Márcia
Somos todos diferentes e é aí que reside a beleza :)
EliminarObrigada minha querida!
Um beijinho*
Não, não vale a pena, querida Patty!
ResponderEliminarO teu post é um testemunho de mta verdade e encorajamento para todas aquelas que estão passando o que tu passaste.
Estás mto gira na foto, com maminhas e curvas -rs. Não derrapes e continua. Podes engordar mais uns quilinhos, em minha opinião.
Beijinhos e uma feliz noite.
PS: ando há algum tempo para te pedir ajuda. Então, do que se trata? Eu sempre coloquei vídeos no meu blogue e tocando em autoplay. Agora, e desde que a Interface mudou, não consigo fazê-lo. Já vi que no post anterior puseste uma série deles e algumas músicas levaram-me o coração (rs). Como procedes para colocar um vídeo no blogue? Agradeço que, qdo te for possível, me ensines, com uma linguagem muito simples, sim, pke eu não sei nada de Net, nem de blogues, como isso se faz. Obrigada.
Como os comentários no meu blogue estão sob aprovação, podes escrever à vontade. Obrigada.
Muito obrigada, querida Céu! Obrigada pelo apoio e incentivo!
EliminarQuanto À tua questão, já respondi no teu Blogue mas caso precises de mais alguma coisa é só dizer!
Um beijinho*
Olá, querida Patty!
EliminarMto grata pelas tuas dicas. Estive aplicando aquilo que me ensinaste qto à colocação dos vídeos no blogue e consegui, só que eu costumava sempre pôr os vídeos no Layout do blogue, e isso já me disseste que não sabes fazer. O vídeo era o apelo para lerem o poema e normalmente estava relacionado com o mesmo. Tocava automaticamente e as dimensões dele eram 1280X720, portanto bastante grande. Não tem problema, pke qdo um dia quiser colocar um vídeo como mensagem nova ou nova mensagem, já sei como hei de proceder. Mto obrigada!
Beijinhos e bom fim de semana.
Obrigada pelas tuas palavras, temos de nos amar tal como somos e tu és a prova de que foste capaz de superar a amar-te :)
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