Já tenho o meu peso saudável…. E agora?
8.2.21Durante o processo de recuperação de um transtorno alimentar, existem diferentes marcos que representam algumas conquistas importantes que fazemos durante esse percurso. No outro dia, em conversa com uma menina que passa por uma situação semelhante à minha, focamo-nos num deles – atingir o peso saudável.
Há uma fase do processo da recuperação que aceitamos que as
coisas precisam de mudar. Nesse momento, torna-se quase a nossa missão de vida
fazer tudo certo de forma a alcançar aquele objectivo que durante tanto tempo
negamos e rejeitamos – o ganho de peso.
Tentamos fazer tudo certinho, mesmo com o medo presente,
mesmo que haja uma ou outra sabotagem. Ficamos genuinamente desapontadas quando
não conseguimos progredir, isto é, não ganhamos peso. E isso motiva-nos ainda
mais a seguir todas aquelas regras que nos temos de autoimpor pois são coisas
que já não são naturais – nomeadamente comer de forma apropriada.
Tudo isto porque, na nossa cabeça, houve um clique – um clique
que nos fez acreditar que a vida ficará melhor quando tivermos o nosso peso
normal. E caminhamos, progredimos, alcançamos e vencemos… E quando finalmente
alcançamos o tão ambicionado IMC de 18,5…
…. Não acontece nada. Rigorosamente nada.
O sol continua a nascer. As pessoas continuam a ser pessoas.
Os nossos sonhos não se tornam subitamente realidade. A vida não fica melhor,
nem pior. Fica exactamente igual. Os medos continuam cá, a ansiedade também. A doença
continua a tentar controlar a nossa vida e nós continuamos a fazer um esforço
descomunal para a contrariar. Não, nem isso fica mais fácil.
E isto é a maior desilusão.
Sentimos que todo o esforço que fizemos foi em vão.
Sacrificamos a “nossa magreza” pelo corpo “dito saudável” que era “a solução
para todos os nossos problemas” e afinal de contas nada muda. Rigorosamente
nada.
Além disso, perdemos o nosso objectivo. Aquele tempo que dedicávamos
a engendrar estratégias para alcançar aquele peso ficou disponível… Como vamos
ocupar esse tempo? Vamos pensar em quê?
É nesse momento que o número da balança começa a ganhar uma importância
desadequada. E é neste momento que, se nos descuidarmos, damos por nós a andar
para trás em vez de seguirmos em frente, e voltamos a cair em comportamentos
destrutivos pois queremos voltar a sentir aquela sensação de controlo pois, com
isso, ao menos sabemos com o que contar. Esse tempo livre começa novamente a
ser ocupado por números de peso, calorias, passos… E voltamos à estaca zero.
Mas esta história está errada desde o inicio – este resultado
é mais uma rasteira da anorexia!
Porquê? Porque… Colocamos tantas espectativas no peso,
depositamos todas as nossas esperanças e sonhos num numero que flutua mais
facilmente que um balão cheio de hélio… E obviamente a realidade não é esta.
Temos de mudar a nossa forma de ver a conta. Não é o peso
que nos vai trazer felicidade instantânea! É a saúde que ganhamos. É a
capacidade de pensar e nos concentrar em tarefas. É o tempo que temos livre
para explorar os nossos sonhos, desejos e talentos. É termos a capacidade de
nos ligarmos aos outros. É tudo aquilo que o nosso novo corpo nos permite
fazer, por estar nutrido, forte e feliz.
É nisto que temos de nos focar. É este que deve ser o nosso
objectivo desde o início.
E assim, certamente teremos sucesso nesta viagem!
2 comentários
Adorei seu texto, antes eu era neurotica com peso, hoje eu sou bem mais de tranquila com isso. bjs bjs https://beperes.blogspot.com/
ResponderEliminarEu penso que há uma recompensa depois de atingir o peso ideal como caber em suas roupas e poder escolher roupas quando comprar e nao ser escolhida por elas. Hoje todas as roupas que eu gosto nao tem meu numero e sem contar a saude hoje quase morro ofegante para subir uma escada. Acho que tudo tem seu equilíbrio e comer saudavel é uma delas. O resultado vem aos poucos. Um otimo dia para voce bj.
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