#MovimentoPerdoaMeCorpo

6.5.21


Recentemente, de forma a pedir perdão ao meu corpo de todas as maldades que lhe fiz, desafiei-me a postar no Instagram, com a hashtag #MovimentoPerdoameCorpo, fotos das partes do meu corpo que me deixavam descontente.

Não fui desafiada por ninguém, ninguém me pediu, mas foi algo que fiz e que me fez tão bem que decidi compilar as 3 publicações que fiz neste post para poder, quem sabe, inspirar alguém?

Vamos a isso!

 

PERDOA-ME BARRIGA…

És parte de mim há 27 anos e eu acho que nunca olhei para ti com o respeito e o carinho que mereces. Sempre que os meus olhos viam a tua imagem no espelho, tudo o que conseguia ver eram “defeitos”. Gordurinhas aqui, dobrinhas acolá… Nunca conseguia ver-te e ficar feliz.

A verdade é que te maltratei (e invariavelmente me maltratei) porque nunca consegui ver-te com amor. Mesmo quando quase não existias – como consequência da magreza extrema que te submeti – conseguia ver imperfeições onde elas não existiam.

O problema não és tu. O problema foram os ideais que a sociedade implementou na minha cabeça, os padrões de beleza inalcançáveis, e uma necessidade ilógica de que tu fosses perfeita (o que quer que isso significasse).

Mas hoje quero agradecer-te. Por protegeres os órgãos vitais que fazem com que esteja viva. Por concentrares em ti aquela gordura essencial para que eu não tenha frio, nem fraqueza, e que permitem também que as minhas hormonas existam.

Agradeço-te por seres uma excelente almofada para o Leo, por seres parte fundamental de abraços apertados, e até te agradeço por doeres quando há risadas intermináveis.

Perdoa-me todas as maldades que fiz, e que infelizmente sei que irei fazer. Obrigada por cuidares de mim melhor do que eu cuido de ti.

 

PERDOEM-ME COXAS…

Lembro-me que, aos meus 15 anos, quando me comecei a interessar por musica coreana, uma coisa que me admirava e fascinava era o facto das meninas terem pernas muito finas e com um chamado thigh gap.

Acho que fiquei um pouco obcecada com essa ideia, porque lamentava sempre o facto das minhas coxas serem “gordinhas” demais. A verdade é que consegui ter o meu tão desejado “thigh gap”, mas a um preço alto.

Amei as minhas pernas enquanto via as suas dimensões a reduzir e o thigh gap a aumentar. Mas fui incapaz de ver quando isso se tornou excessivo, mesmo com os olhares de pena que as pessoas me lançavam na rua, mesmo quando os tamanhos 32 me ficavam largos.

Mas acho que a parte mais triste é agora, olhando em retrospetiva, lembrar-me da minha Luna a tentar aninhar-se no meu colo, mas não ter nada senão osso para se encostar, e a minha incapacidade de juntar as coxas devido ao thigh gap não lhe dar uma cama confortável. Agora é tarde demais.

Será que valeu assim tanto a pena ter pernas finas e as coxas delgadas quando perdi muito mais que ganhei? Será que esta dimensão que considerava exagerada não me dá mais felicidade?

Perdoem-me, coxas. Perdoem-me, pernas.

 

Nunca te dei valor. Nunca vesti orgulhosamente uma blusa com decote, como qualquer outra mulher. Sempre te escondi.

Porquê? Tu nasceste comigo, mas perturbavas-me – por seres grande, por seres feio, por seres extremamente visível. Por isso, sempre evitei blusas decotadas, ou algo que mostrasse um pouco mais que as clavículas.

Mas acho que o que mais me frustrava era saber que podia fazer algo para resolver essa situação, mas não fazia. Podia ir a um cirurgião e remover-te, e o problema ficava resolvido. Mas nunca fiz porque tinha mais medo da dor de te remover que o desconforto de te ter. Mas isso limitava-me e fazia-me sentir frustrada.

Desculpa-me, por ter-te transmitido tantas más energias e por ter demorado tanto tempo a aceitar-te como parte de mim.

Tu és parte de mim.



PERDOA-ME PATRÍCIA…


Por todas as vezes em que te vi no reflexo do espelho e senti deceção, tristeza, repulsa, desagrado, raiva, embaraço, e todas as restantes emoções negativas que senti.

Por todos os momentos em que acreditei que eras incapaz, que eras inferior, que eras desprezível, que não eras digna de amor, de sucesso, de alegria, e todos os restantes pensamentos negativos que refleti.

Cresci sem te dar valor. Cresci a acreditar que eras apenas uma formiga num mundo de gigantes, e que ias viver escondida e com medo que fosses pisada. Maltratei-te por achar que a culpa era tua, por não te adaptares a um mundo doente, por seres diferente…

Mas não é assim.

Hoje olho para ti e vejo uma menina mulher forte, resiliente, capaz e corajosa. Sei que carregas em ti o peso do medo e da ansiedade, mas também da humildade, da amizade, e da empatia. Não és inferior, nem superior a ninguém – tu tens o teu caminho, como todos os demais têm, e tens de o seguir. Tens em ti beleza nos teus olhos azuis, na tua pele, na tua barriga, nas tuas pernas, no teu sinal no peito, e em todas as coisas que não gostavas em ti, porque a beleza é um conceito abstrato.

Patrícia, prometo daqui para a frente tratar-te(me) com respeito, com amor e com compaixão. Vou acreditar mais em ti(mim) e dar-te(me) a atenção necessária, envidando julgar-te(me) e criticar-te(me).

Perdoa-me.

(Estás Perdoada.)



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3 comentários

  1. oh querida que post belo, és uma inspiração sem dúvida!
    beijinhos

    Blog ChocoPink / Instagram / Facebook

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  2. Que post tão bom, e tão pessoal. Realmente temos de pedir perdão ao nosso corpo. <3
    Um beijinho,
    http://myheartaintabrain.blogspot.com/

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  3. É incrível como quando nos aceitamos tudo o que vemos como defeitos que são parte de nós ficam caracterizados como qualidades e pequenos detalhes lindos que nos acompanham pelo resto da nossa vida! Adorei acompanhar esses post's e agradeço a tua coragem na partilha dos mesmos, há que passar mais verdade para quem nos segue, há que passar que todas nós temos medos e inseguranças, temos momentos menos bons connosco por isso mesmo faz todo o sentido que partilhes este tipo de conteúdo e agradeço a tua coragem para tal! 🥰

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