[#Reflexão] Um dia de "Adeus"

2.12.17



Faz hoje um ano que eu senti, pela primeira vez, o que é perder alguém próximo. Antes, apenas tinha observado, de longe, o que era a dor de enfrentar a morte, mas não a sentira, ou pelo menos não a compreendera na sua imensidão.

Lembro-me perfeitamente do dia 2 de Dezembro de 2016. O meu pai tinha ido a Lisboa a uma consulta e eu aproveitei para vir para casa com ele, passar o fim de semana. Viemos os dois na cavaqueira a viagem toda e ele deixou-me em casa para ir buscar a minha mãe.

Quando eles voltaram, eu percebi imediatamente que algo não estava certo. Perguntei o que se passava mas, ao invés de uma resposta, apenas vi olhares e hesitações. Só depois a minha mãe me disse:

“O avô já não está cá connosco.”

Eu acho que não percebi bem o que ela dissera. A minha primeira reação foi rir-me. Claro que ele não estava cá connosco, ele estava em Montemor com a minha avó. Mas ao ler a expressão dos meus pais, e em especial do meu pai, entendi que não ere esse “estar connosco” que eles referiam.

Ainda hoje não sei bem o que sentir em relação à perda. Naquele dia chorei, e depois fiquei sem reação. A minha casa estava uma confusão, telefonema para aqui e para ali, planear o funeral, planear como contar à minha avó o que acontecera – que naquela altura ela não sabia. Ver o meu pai desesperado – pois acabara de perder um pai. Ver a minha mãe a tentar manter a família junta – porque eu também perdera um avô.

O dia seguinte foi igualmente estranho. Queria dizer horrível, mas a verdade é que estive tão apática a maior parte do tempo que não sei até que ponto essa é a palavra que melhor descreve o dia. Foi o funeral (o primeiro a que assisti), e eu, mais uma vez, chorei, depois fiquei sem reação e voltei a chorar, e por vezes a situação parecia tão surreal que às vezes sentia que estava ali outra pessoa que não eu a viver aquilo, e eu estava apenas a observar de longe. Foi um dia de adeus, um dia de até breve… No dia seguinte, levámo-lo para o Algarve, local onde ele realmente queria estar.

Passou tudo muito rápido e foi tudo muito atribulado, e curiosamente não tenho muitas memorias dos dias que se seguiram ao funeral. Acho que fiquei dormente com tudo o que experienciei. Dizem que o luto é feito de forma diferente, em tempos diferentes, por pessoas diferentes e eu penso que seja verdade.

Mas no meio disto tudo, o que realmente me deixa a pensar é que, depois disto tudo, o meu avô deixou de ser mencionado. É quase como se fosse um assunto tabo – pelo menos eu quero pensar que seja assim. As pessoas morrem, a vida continua, mas custa-me aceitar que é só isto.

Na verdade, é mesmo só isto.

Eu e o meu avô eramos próximos, mas não tínhamos aquele laço de avô-neta que estavam constantemente aos abraços e beijos e carinhos. Eu sei que ele me amava muito e sei que, onde quer que ele esteja, está orgulhoso de mim. No entanto, agora arrependo-me de não lhe ter dito, ou mostrado, mais vezes o quanto gostava dele. Espero que ele tenha sentido esse amor que nutria por ele, mas sei que provavelmente não o sentira tanto quanto eu gostava pois eu era (e sou) demasiado fria no que toca a demonstrar emoções.

A vida é muito ingrata. Sempre tomei a presença dos meus avós como garantida e, embora os meus pais sempre me tivessem explicado que a morte existe e é uma realidade e que os meus avós não iriam viver para sempre, eu não acreditava que iria ter de enfrentar a sua perda. No entanto, ele pode ter ido para outro lugar melhor, mas continuará na nossa memoria. Mesmo que não falemos sobre ele, eu sei que todos o relembramos com ternura.


Faz hoje 1 ano que o meu avô partiu. Tinha 94 anos. Viveu uma vida longa e difícil, mas espero que tenha sentido felicidade pura durante a sua caminhada.


Avô, onde quer que estejas, olha por mim, pelo pai, pela mãe, pela avó e por todos os outros que amaste e que te acompanharam nesta caminhada e que cá continuam. O tempo passa, a vida continua mas as memórias que temos contigo, essas ninguém as vai tirar. Nunca serás esquecido.

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