[#Recuperação] Living with anxiety - A minha experiência
10.4.18
Todos
nós que andamos por cá neste mundo temos algo que nos desafia todos os dias, e
que nós faz lutar. Hoje gostaria de partilhar convosco a minha luta.
“Estava no 9º ano. Naquele dia tinha ido
com os meus colegas para a biblioteca da escola, porque tínhamos um trabalho
para entregar e ainda não estava terminado. Estava tudo bem, estávamos a rir e
a brincar.
Algum tempo depois, decidimos ir embora.
Penso que era hora de almoço, e íamos todos para o bar para comer qualquer
coisa. Eu levantei-me e….
Tudo ficou escuro.
Senti alguém a agarrar-me, e alguns
segundos depois voltei a conseguir ver. Não sabia o que estava a acontecer.
Seria uma quebra de tensão? Estaria com falta de açúcar?
Levaram-me para o corredor e alguém
trouxe chocolate e água, que eu rejeitei, mas que me forçaram a comer. De
repente, tinha o corpo todo a tremer, a cabeça à roda, o coração a mil. A minha
cabeça não parava de pensar “O que foi isto? Estarei a morrer? Será que vai
acontecer de novo?” Não conseguia parar, nem o meu corpo, nem a minha mente.
Estava tudo fora de controlo.”
Podia
ser o inicio de um capitulo de um livro de ficção, mas não é. Esta é a minha
memoria mais antiga de um ataque de pânico. Eu sempre tive uma certa fobia
relacionada com questões de saúde, e sempre fiquei aterrorizada quando algo no
meu corpo não estava bem, mas aquela foi a primeira vez que eu
quase-que-desmaiei. Se eu tivesse pensado com a lógica (e agora, anos depois,
consigo ver isso), teria percebido que aquela tontura que eu tive tinha sido
causada pela falta de açúcar, pois naquele dia não tinha lanchado, e também
porque estava quente na biblioteca. No entanto, não consegui ser racional.
A
verdade é que para mim analisar estas situações como “sem perigo” é um desafio.
Agora, 8 anos depois, ainda não consigo relativizar as sensações corporais que
por vezes tenho. Qualquer dor de cabeça, qualquer náusea, qualquer palpitação
ou pequena vertigem para mim é, e sempre será, um bicho de sete cabeças.
Este
não foi o meu primeiro cenário de ansiedade. Segundo a minha mãe, já
apresentava sintomas deste género, perante o mesmo tipo de cenário (ou seja,
perante questões relacionadas com a saúde) desde muito pequena. Sempre que me
sentia maldisposta (que (ainda) é o meu principal trigger), começava a tremer descontroladamente e pedia para ir
apanhar ar à rua – isto, com cerca de 4 anos. Claro está que eu não me lembro
de nada disto, e realmente a memoria mais recente que tenho foi este episódio
quando eu tinha 14 ou 15 anos.
Travo
esta luta desde sempre. Há alturas em que parece que tudo está bem, e não tenho
nem pensamentos, nem sintomas nenhuns de ansiedade. Normalmente estes cenários
surgem de repente, sem qualquer sinal de aviso, nas situações mais aleatórias.
Lembro-me que, depois deste acontecimento, aconteceram inúmeros episódios em
diferentes sítios: no cinema, no supermercado, na escola, na rua… E o pior é
que, no meu cérebro, ficava gravado o local onde estes ataques aconteciam e eu
começava a ficar aterrorizada só de pensar em ir ao supermercado, ou ao cinema,
ou a outro sitio qualquer, só com receio de que voltasse a acontecer. Como
resultado, acabei por me isolar. Os outros miúdos não percebiam, e por vezes
sentia que eles achavam que eu era mimada, frágil, ou maluca – mas eu não
poderia exigir que eles percebessem, porque nem eu própria percebia. Os meus
pais tentaram ajudar-me, mas eu sei que para eles foi muito difícil porque eu
simplesmente não reagia, eu não conseguia sair daquele ciclo mental que me
debilitava tanto. Tive ajuda, e de certa forma durante uns tempos ajudou, mas
infelizmente não foi a melhor ajuda que podia ter, e acabou por ser outro trigger.
Não
foi fácil dar a volta a esta situação. Ainda não é. Esta viagem, desde então,
tem tido inúmeros altos e baixos, e depois de melhorar desta fase menos boa,
voltei a cair no fundo do poço na altura em que entrei na universidade, mas
felizmente voltei a melhorar. Este distúrbio, como qualquer outro, tem esse
problema. Nunca se fica 100% recuperado – funciona por fases, e o pior é que as
fases más são imprevisíveis. Qualquer situação pode servir de gatilho e activar
todo este mecanismo de resposta “fight or
flight” descontrolado, que depois é muito difícil de controlar – e
infelizmente eu sei isto porque senti e sinto na pele.
Contudo,
estou a aprender que não podemos deixar o medo controlar a nossa vida – nós
temos de controlar o medo e tomar as rédeas da vida. Esta aprendizagem é
morosa, e, por vezes, frustrante porque parece que nada funciona, mas com
pequenos passos, vou conseguindo aprender técnicas e estratégias para lidar
melhor com a situação. Quando os tempos mais difíceis chegam, é muito difícil
aplicar qualquer técnica, mas uma coisa que me tenho vindo a aperceber é que as
minhas crises estão cada vez mais curtas e é cada vez mais fácil para mim lidar
com elas.
Com
isto, queria apenas dizer que, não importa as dificuldades que passamos na
vida, os transtornos que temos, os desafios que surgem, no final, com
determinação, com paciência e com foco, tudo fica bem! E mesmo que o mundo
pareça estar a desabar, temos de nos relembrar que, quando atingimos o fundo do
poço, a única direção a seguir é para cima!
1 comentários
Olá Patricia, bem me queria parecer que tínhamos mais algumas coisas em comum do que à partida poderia parecer. ��
ResponderEliminarEntão, eu também sofri (acho que ainda está por aqui escondido algures) de ansiedade. Tive ataques de pânico numa fase em que estava na faculdade, trabalhava, namorava e tudo parecia exigir de mim 200% - ou mais propriamente EU exigia de mim 200% em tudo. Sempre tive este “problema” de querer ser perfeita. Queria ser a melhor da turma, a melhor no trabalhão, a namorada perfeita, a filha perfeita! E foi então que os ataques de pânico surgiram. Coração acelerado, corpo dormente, enjoos, respiração ofegante e sem conseguir explicar o que sentia.... cheguei a ser medicada durante algum tempo - os comprimidos da felicidade ��. Hoje em dia está ultrapassado, nunca mais gives ataques de pânico mas em certas alturas sob stress sinto que poderia ter um ataque de pânico a qualquer momento, mas não tem acontecido nos últimos anos... talvez a maturidade traga também alguma tranquilidade e não nos deixa ser levados tão facilmente pelas emoções ou talvez sou só eu quebenho tido sorte... um beijinho. Daniela (danigirl_fitlog)