[#Reviews] Tasting Lisboa: Muito BEY
3.6.18
Acredito que uma das melhores
maneiras de conhecer um país é pela sua gastronomia. Na verdade, acho que é um
dos aspetos que reflete mais a cultura de um país – geralmente, a alimentação
tradicional baseia-se em produtos típicos de cada região, o tipo de cozinha e
processamento dos alimentos são, na sua generalidade, técnicas que já estão a
ser usadas à anos e a comida tradicional e a forma como se come também reflete
toda uma componente social de um país.
Como não posso viajar assim como
quem estala os dedos, vou-me ficando por experimentar a comida de diferentes
países – claro está que uma ida a um restaurante é muito mais económica que uma
viagem de avião eheh. Mas vocês podem dizer “Ah mas comer comida de país X num
restaurante em Portugal não é o mesmo que comer no país de origem” e aí eu digo
“É verdade! Mas ao menos tenho um cheirinho da experiência!”
E estou a contar esta história
toda porque fui, pela primeira vez, experimentar comida libanesa! E tenho mais
coisas para vos contar antes de falar do restaurante propriamente dito! No
outro dia, numa aula de nutrição na faculdade, estávamos a falar sobre a dieta
mediterrânica, que todos nós sabemos que é uma referência para a alimentação
saudável. Nessa aula, apercebi-me que a dieta portuguesa não se enquadra nos
padrões da dieta mediterrânica – sim, eu era ignorante a este ponto, peço
desculpa se vocês já sabiam isto. Na verdade, os padrões da dieta portuguesa
seguem mais as linhas de uma dieta atlântica, que é rica em peixe. Por sua vez,
o Líbano, e todos os países que realmente estão em torno do mediterrâneo
(alguns do médio oriente, a Grécia, o Chipre, etc.) já têm estes padrões
gastronómicos que são bastante interessantes. Foi precisamente por causa desta
aula e da discussão sobre a dieta mediterrânea que tive na faculdade que decidi
ir com o meu pai ao Muito BEY, e experimentar os sabores de Beirut!
O Muito BEY é um restaurante todo
catita que fica na zona do Cais do Sodré. Passa meio despercebido pois está
numa rua com vários restaurantes, alguns deles bem grandes, com gastronomias
muito diversas. Ao entrarmos, parece que entramos num mundo diferente – a sala
tem muita luz (o candeeiro que está no teto é absolutamente fantástico), as
mesas têm cadeiras muito coloridas, os bancos do balcão são também coloridos e
a musica faz-nos logo entrar no espírito do médio oriente. Visitei o
restaurante a um Sábado, entrei por volta do 12h45 e estava praticamente vazio,
o que para mim não é um problema pois assim consegui desfrutar da minha
refeição bastante sossegada (e não tive de ter mil pessoas a olhar para mim
enquanto fotografava a comida com aquele ar de “I’m judging you”--). Um pormenor que eu queria ressalvar, e que
pode parecer meio à toa mas que é bastante importante foi que as casas de banho
do restaurante estavam IMPECÁVEIS, super limpas e cheirosas, que é algo muito
muito muito positivo!
A Comida
O menú do restaurante baseia-se
essencialmente em diversos “Mezze”, que no fundo são o equivalente a tapas para
nós portugueses e que podem (e devem!) ser acompanhados pelos pãezinhos que
eles têm, mas também tem sopas, saladas, pratos de carne e peixe e sobremesas.
Depois, além disto, têm um menu de degustação para duas pessoas que inclui 2
saladas, 3 Mezze frios e 2 Mezze quentes que são escolhidos pelo chef, e também
inclui pão Manuché, 1 mix de espetadas, 1 sobremesa (que é à escolha do
cliente) e 2 bebidas. Cada Mezze vem servido em pequenas tigelas, cuidadosamente
empratado. A mesa fica super cheia mas super bonita com todas as tigelinhas
servidas, mas é bastante interessante ir petiscando aqui e ali de cada prato, desfrutando
dos diferentes sabores enquanto se conversa e se relaxa um pouco.
Nós pedimos justamente o menu de
degustação! Vou-vos falar de todos detalhadamente!
PÃO
Antes
de falar dos pratos propriamente ditos, tenho de vos falar destes pãezinhos que
vieram a acompanhar os nossos Mezze. O pão Manuché (ou Man’ouche) – que é o
nome deste pão típico do Líbano - é uma
espécie de pão pita mas mais fininho, que faz umas grandes bolhas no meio
quando é aquecido! É servido quentinho, e em termos de sabor, por si só, não é
propriamente um alimento que brilhe, mas em conjunto com os Mezze é maravilhoso!
Em termos de textura tem um equilíbrio muito ténue entre o crocante (nas partes
mais finas do pão) e uma textura mais chewie
nas partes mais espessas.
SALADAS
As
saladas que nos serviram foram a Tabulé e a Fassulia. São nomes estranhos, não
é? Mas na verdade são pratos bem simples, muito deliciosos e principalmente
muito frescos! Eu já tinha ouvido falar de Tabulé (na verdade, quando vi
mencionado escrevia-se tabouleh) mas não sabia o que era – agora sei que é um
preparado de tomate, cebola e bulgur com muita salsa picada e temperada com
especiarias libanesas. É muito fresco e sabe bastante a salsa! Por outro lado,
nunca tinha ouvido falar de Fassulia, que na verdade não é nada mais nada menos
que feijões brancos marinados num molho de alho e limão, o que lhes dá uma
acidez agradável! Não consigo escolher qual dos dois gostei mais, mas
garanto-vos que são deliciosos!
MEZZE FRIO
Os três
Mezze frios que nos serviram foram o já famoso Humús, Mutbal e Labné! Mais uma
vez, são nomes estranhos e desconhecidos para a maioria de nós, excepto o húmus
que já é um alimento um bocadinho da “moda”, mas todos eles são pastas que
combinam perfeitamente com o pão Manuché! O húmus vocês já conhecem – é uma
pasta de grão de bico com tahini. Veio servida numa tigelinha com um fio de
azeite e uns quantos grãos de bico inteiros e… que mais posso dizer além de que
era maravilhoso e super cremoso?
O
Mutbal (ou Mutabbal) é também uma pasta que leva tahini mas cuja base é
beringela! Eu não costumo comer beringela com frequência por isso não estou
muito familiarizada com o sabor mas pareceu-me, dos três Mezze frios, aquele
que tinha o sabor mais suave! Também era super cremoso em termos de textura e
foi servido com um frio de azeite e bagos de romã que adicionavam um sabor
adocicado e aquela textura meia crocante característica! Delicia!
O último Mezze frio – que devo confessar que foi o meu favorito dos três apesar
de ter gostado de todos – foi o Labné (ou Labneh). Esta pasta era um bocadinho
diferente das restantes pois a sua base era, na verdade uma espécie de iogurte
que tinha um sabor meio azedo (lembra o queijo quark ou o skyr natural!) e
tinha misturado hortelã e alho. Era delicioso! Super fresco, com um sabor super
intenso… tão bom! Também vinha servido com um fio de azeite por dentro.
MEZZE QUENTE
Para
completar a nossa mesa de Mezze, vieram mais dois, mas desta vez eram pratos
quentes – O falafel e o Makanek!
Para os
amantes de comida vegetariana, Falafel não é um nome desconhecido! São uns
bolinhos de grão de bico fritos (como se fossem croquetes) que ficam super
estaladiços! Vieram acompanhados de um molho chamado Tarator, que nada mais
nada menos é que tahini e sumo de limão, uma combinação super simples mas que
combina divinalmente com o falafel!
O
Makanek para mim foi outra novidade – são mini salsichas de carne de vaca
marinadas num molho com romã e especiarias! É um prato de carne que é, de
facto, uma explosão de sabor! Nota-se bastante o sabor a cominhos, uma
especiaria que eu descobri que gosto e que a minha mãe detesta (por isso ainda
bem que ela não veio connosco!). Além disso, em termos de textura e de aspeto,
não se parecem nada com as salsichas comuns que há à venda nos sítios comuns.
Na verdade, em termos de aspeto visual, não é de todo o mais apelativo para os
meus olhos – nem mesmo a salsa picada por cima as safa – mas em termos de sabor…
hmmmm!
Agora
vejam só a mesa completa, com todos os Mezze… Não dá vontade de tirar mil
fotografias e depois provar tudo?
MIX DE ESPETADAS
Eu
cometi um erro muito grande ao iniciar a refeição – achei que aqueles Mezze não
seriam suficientes para nos matar a fome. Afinal de contas, eramos duas
pessoas, o meu pai come bem e eu tinha bastante fome, e as tigelas não eram
assim tão grandes. Errei. Substimei bastante o poder de enchimento daqueles
alimentos e, quando chegaram as espetadinhas já me sentia meia cheia… mas não
desisti! Vieram
3 espetadinhas dentro de um dos pães manuché – Lahmé Mechuié, Chiche Taúk e
Kafta – e lá estou eu novamente com os nomes esquisitos! Vinham acompanhadas
com uma salada com romã (Eu comi esta salada quase toda sozinha) e dois molhos,
o Tarator e um com hortelã picada – ou pelo menos assim me pareceu!
Ora,
relativamente às espetadinhas (pela ordem da fotografia, da esquerda para a
direita), a primeira - Lahmé Mechuié – é uma espetada de carne de vaca
temperada com várias especiarias típicas do Líbano e grelhada. A carne
desfaz-se e o sabor das especiarias é mais suave do que esperava, mas não deixa
de ser saboroso! A segunda - Chiche Taúk ou Shish Tawook – é feita com carne de
frango marinada num molho de iogurte com limão e alho que depois é grelhada. A
carne fica bastante tenra e o sabor a alho e limão é intenso, o que eu
pessoalmente adorei! Por fim, o Kafta é a versão libanesa de um kebab, com
carne picada de vaca e borrego, temperadas com muitas especiarias e ervas
aromáticas (cominhos, coentros, hortelã, pimenta…) que depois é prensada em
torno do palito da espetada e grelhada! É basicamente um daqueles rolos de
carne dos kebabs em versão mini, mas com um sabor mais explosivo e uma textura
mais agradável na minha opinião!
Das
três, a que gostei mais foi a de frango, mas acho que este prato vale muito a
pena! Além disso, o pãozinho onde são servidos fica com o molho das marinadas e
é um crime deixar esse tesouro no prato! (e não se podem esquecer de
experimentar misturar com os molhos! Fica muito bom também!)
SOBREMESA
Acho
que a nossa escolha de sobremesa foi a menos libanesa que havia na lista… mas a
verdade é que a gula falou mais alto e acabamos por pedir um Manuché Chocolate –
que no fundo é um pãozinho dos tradicionais, recheado com chocolate (eu acho
que era nutella!), banana e morango, e enrolado como se fosse um crepe. Vem
servido quentinho, com açúcar em pó por cima e morangos, banana e nozes a decorar!
Conseguem imaginar a delicia?
Eu
confesso que fiquei com muita vontade de procurar estas receitas na internet e
reproduzi-las em casa. Não só me pareceram bastante saudáveis, como na verdade
parecem ser bastante simples de fazer! Além disso, eu sinto-me cada vez mais
aventureira em termos de comida e quanto mais experimento, mais vontade tenho
de me aventurar em novas culturas e a gastronomia tipicamente mediterrânica tem-me
vindo a chamar muito a atenção.
Para
terminar, vou referir que o valor deste menu de degustação, que inclui todos
estes pratos que vos falei para ser partilhado por duas pessoas é 55€. Não é o
preço mais económico, eu sei, mas fica mais barato que pedir os pratos
individualmente eu eu JURO que vale muito a pena! Foi dos melhores restaurantes
que tive a oportunidade e o privilégio de experimentar e estou genuinamente
apaixonada! Quero muito muito muito voltar!
Espero
que tenham gostado desta aventura gastronómica! Experimentem esta gastronomia
deliciosa e pensada para ser partilhada que não se vão arrepender!
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