[#Reviews] Tasting Lisboa: Soão - Taberna Asiática

3.8.18

              


                Caros passageiros, bem vindos a bordo da Soão Airlines. Hoje voamos para a Ásia, um continente fascinante, diverso e bastante rico, especialmente a nível gastronómico! Para vosso proveito, recomendamos que mantenha a mente aberta, que tenha um espirito aventureiro e que esteja preparado para uma explosão de culturas, sabores e texturas que o irão levar a querer explorar mais e mais destes países que têm tanto de fascinante como de delicioso! Esperemos que goste da viagem!
                Bem, não foi assim que a minha ida ao Soão – um novo restaurante de gastronomia asiática que abriu em Lisboa, na zona de Alvalade – começou… mas bem que poderia ter sido! Assim que ouvi falar sobre este restaurante (na verdade, foi até o meu pai que me falou dele porque viu no Facebook), sabia que lá tinha de ir. I mean… comida asiática… eu só amo! Peguei em mim, reservei mesa e lá fui eu com o meu pai para mais uma aventura de sabores!
 
                 Na verdade este restaurante tem mesmo pinta de taberna asiática. Ao entrar, reparamos que é tudo bastante rustico – muitas madeiras, bancos em vez das típicas cadeiras requintadas que há nos restaurantes mais finos e um longo balcão onde, de um lado, os clientes se podem sentar e, do outro, os chefs estão a preparar sushi mesmo em frente ao cliente. Se não estão familiarizados com este conceito, nos países da ásia é muito comum haver pequenos restaurantes em que se come ao balcão com os chefs a prepararem a comida mesmo à frente!
                Mas este restaurante esconde um segredo… por trás do balcão, estão umas escadas que levam para uma parte “secreta”… e que também está associada a um tipo de restaurante muito comum no Japão. Ao descer as escadas encontramos a cozinha, seguida de um corredor com pequenas salas individuais, mesmo ao estilo japonês, onde grupos podem desfrutar de uma refeição num ambiente tranquilo e privado. Há também um pequeno bar para bebidas e ao fundo são as casas de banho.
                Não tenho por habito comentar as casas de banho dos restaurantes, apesar de ser algo muito importante. Mas desta vez não posso evitar falar delas! Para além de super limpas, e também de ambiente rustico (aliás, os autoclismos são daqueles com uma corda que se puxa!) os lavatórios têm um aspeto antigo, e em vez de papel ou secadores para as mãos, têm pequenas toalhas individuais que podemos utilizar para secar as mãos! Não é adorável?
                Tudo neste restaurante foi pensado ao maior detalhe. Uma vez que têm no seu menu varias opções de sushi e sashimi, não é de admirar que existam elementos alusivos ao mar na decoração, nomeadamente redes de pesca penduradas no teto. O staff também se encontra vestido a rigor – com fardas que, só de olhar, associamos automaticamente à àsia.
                E por falar em staff… todos aqueles com quem eu falei são de uma simpatia sem igual! Quando eu e o meu pai chegamos, não havia ninguém ainda no restaurante – de facto, até nós chegamos um pouco antes da hora que tinhamos marcado mas como não estava ninguém decidimos arriscar e ir ver se a nossa mesa já estava pronta. Ao chegarmos fomos muito bem recebidos e a anfitriã teve a amabilidade de nos mostrar todo o restaurante. Foi assim que descobrimos o andar inferior, pois a nossa mesa era no andar superior. O serviço em si é relativamente rápido. Digo relativamente porque alguns pratos demoram um pouco, mas penso que isso se deva ao facto de serem confecionados no momento e, portanto, esta ligeira demora (que não é nada de extraordinário) é de facto algo bom!
                Outro pormenor em que reparei foi que os chefs que estavam a preparar a comida a balcão falavam entre si em inglês, o que me leva a pensar que nenhum deles era português, o que não deixa de ser interessante!
                Apesar de termos chegado cedo e por um bocado termos sido os únicos clientes do restaurante, este depressa encheu, por isso recomendo caso queiram visitar o espaço que façam uma reserva para garantir o lugar!

Agora… vamos ao que interessa, não é?


A comida

O Soão não tem um menu muito extenso… e graças a deus que não tem, senão eu ia perder-me a tentar escolher! Mas tem várias opções, desde as entradas, sopas, gua baos (uma espécie de hambúrgueres do Taiwan), dim sum (os típicos bolinhos cozinhados a vapor), pratos quentes e depois tem um menu especifico de sushi e sashimi.
Outra particularidade deste restaurante é que tem cerimónias de chá e whiskey, algo que deve ser muito giro de experienciar, mas que eu ainda não tive essa oportunidade! Ah, e claro está, tem sobremesas que só pelos nomes nos deixa a babar!
Vou então mostrar-vos aquilo que comi!


Gói Cuôn (Vietnam)

Este prato é, segundo o que está descrito no menu, um “rolo primavera de peixe e camarão, pepino, basílico e molho de amendoim”. É, no fundo, um conjunto de vegetais, peixe e camarão emburlhado em papel de arroz, que leva um molho por cima e é servido com carambola.
É um prato muito fresco e cheio de textura! Fiquei muito admirada pois era bastante crocante devido aos legumes, e em termos de sabor era bastante suave e agradável. É daquelas comidas que sabe bem degustar no verão pois refresca bastante, e acho que isso se deve não só aos legumes crus que o constituem, mas também às folhas de basilico (ou manjericão, que aparentemente é a mesma coisa).


Shaomai de Frango e Vieiras (China)

Foi o Dim Sum sugerido pela rapariga que nos serviu e foi uma ótima escolha! Servido num cestinho de cozer a vapor tipicamente asiático, este bolinhos vieram quentes, decorados com ovas (de salmão, se não me engano) e com molho de soja aromatizado com sementes de sésamo. Por dentro, pelo que pude perceber pelo sabor, esta espécie de pastel cantonês leva carne de franco picada, com as tais vieiras (que eu não consegui diferenciar o sabor mas acredito que lá estejam), couve chinesa e cebolinho, que é uma combinação clássica e equilibrada de dim sum.
Depois, o molho de soja dá-lhe aquele toque especial e… hmmm. Que delicia! O único problema é que as porções são feitas para serem comidas de uma só vez mas para mim eram um bocadinho grandes e acabei a parecer um esquilo eheh


Galbijjin (Coreia do Sul)

Quando me foi servido este prato, o meu primeiro pensamento foi “olha, parece uma jardineira!” e de facto parece mesmo – tem a carne, batata (ou pelo menos parecia), cenoura e um caldo espesso. Mas esta jardineira… é muito melhor do que a típica jardineira portuguesa!
Na verdade, Galbijjin é um corte da costela de vaca (vem, inclusivamente com a carne agarrada ao osso) que foi marinada e cozida durante muito tempo a baixa temperatura. O resultado? A carne MAIS TENRA DE SEMPRE que de desfaz e se separa muito facilmente do osso, até com os pauzinhos! Foi das melhores carnes que já comi! Tão tenrinha…
Em termos de sabor, pensei que seria algo picante, mas não é picante at all! É servida com arroz branco a acompanhar e o molhinho por cima do arroz fica divinal! Recomendo muito este prato, a sério!


Som Tam Neua (Tailândia)

Ora… este prato foi também uma surpresa! Citando o menu, o que é o Som Tam Neua? É uma “Salada de papaia verde com wagyu temperada com lima, amendoim e tomate cherry”. Não sei se vocês sabem o que é Wagyu, mas eu passo a explicar – é um tipo de carne produzida no japão que tem um aspeto mármore devido à quantidade e distribuição de gordura entre as fibras musculares. É uma carne muito famosa mas também muito cara pois vem de um tipo especifico de gado que é tratado de forma particular! Assim que vi este prato, desafiei o meu pai pois nenhum dos dois tinha alguma vez comido algo assim!
E foi aí que começaram as surpresas! Primeiro, a rapariga avisou-nos que o prato era bastante picante e, como nós dissemos que gostávamos de picante mas q.b., ela deve ter avisado o chef disso e a salada que nos foi servida não era nada picante! Não que isso fosse mau – mas esperava que tivesse aquele toque de hotness.
A segunda surpresa foi que… eu esperava que a carne viesse cozinhada! De facto, cada naco deve ser braseado e selado antes de cortar, mas o interior fica completamente cru, por isso o que nos apareceu no prato foi, no fundo, carne crua! Ora, eu demorei a aprender a gostar dos bifes malpassados… mas agora gosto! E por isso digo com todo o orgulho que, pela primeira vez, comi carne crua! E gostei! A única dificuldade que tive foi ao mastigar pois era mais difícil partir em pedaços mais pequenos mas de resto… era maravilhosa a carne! E a salada em si, num todo, era muito refrescante e todos os legumes que lá estavam eram crus – e por isso, bastante frescos e crocantes. Uma combinação deliciosa para os mais aventureiros!


Mantou – Pão chinês com leite condensado (china)

Passando agora para os docinhos… Oh boy, os docinhos! Para ser sincera, a cozinha asiática não é a mais rica em doçaria e pastelaria mas tem algumas sobremesas bastante boas.
Nunca antes tinha provado esta sobremesa – até porque o típico dos restaurantes chineses é o gelado frito ou a banana frita (isto se ainda houver espaço depois do banquete!). Veio servida numa travessa comprida, em que numa ponta estava uma tigela com leite condensado e sementes de sésamo, depois dois pãezinhos: um que lhe irei chamar “normal” (o branquinho) e outro que penso que foi frito (o amarelinho) e umas frutinhas na ponta.
Não faço ideia se há alguma técnica especial para comer esta sobremesa (se alguém souber, avise!) mas eu usei as mãozinhas para partir os pães e molhar no leite condensado à boa maneira portuguesa! Os pãezinhos são super leves e fofinhos, embora em termos de sabor sejam um pouco neutros. O amarelo tem um sabor um pouco mais intenso que o branco, mas de qualquer forma só pela textura já são bastante agradáveis! No entanto, quando molhados no leite condensado são uma festa no palato…! Que combinação deliciosa! E quem não gosta de leite condensado, não é?


Gelado de lemongrass, gengibre e manjericão (Tailândia)

A outra sobremesa que experimentamos foram estes gelados. Vêm servidos com coco ralado, fruta e uma flor que torna o prato super delicado e bonitinho. Vêm duas bolas de gelado – uma de lemongrass e a outra de gengibre e manjericão. Devo confessar que o gelado de lemongrass é tão intenso em termos de sabor que se sobrepõe imenso ao outro gelado que, no fim, parece que não sabe a nada.
É uma sobremesa interessante, mas confesso que de todas as coisas que provei, foi aquela que me deixou menos satisfeita, embora tenha gostado! Mas achei que, de facto, aquele desequilíbrio na intensidade dos sabores acaba por deixar a sobremesa um pouco aquém do seu potencial.


Extra – Café

 
Eu não tenho por habito beber café nos restaurantes e, por isso, não pedi para mim. Mas o meu pai pediu um e, claro está, esperávamos a típica chávena de café tirada da máquina. Mas aquilo que parecia algo tão básico, tão tipicamente português, tão…. Normal digamos assim, tornou-se toda uma experiência memorável!
E não é que o café que nos serviram foi mesmo ao estilo caseiro, com um filtro, um bule de água a ferver e o café em pó (e não das cápsulas que agora estão na moda)?? Foi todo um ritual do café digno de ser visto, apreciado e desfrutado! Até eu que não bebo café acabei a beber e digo-vos com toda a franqueza – que café maravilhoso! AH e é para beber sem açucar, claro!



Para Terminar...

Nada tira o prazer de por os pés numa terra que não é aquela que nós estamos habituados a pisar no dia a dia, mas vocês não gostam desta magia de viajar sem sair do sítio, de explorar novos países, novas culturas e novos povos através de sabores, cores e texturas? Em duas horas, voei pela China, pela Tailândia, pelo Vietnam, pela Coreia do Sul… enfim, explorei imenso sentada a uma mesa, a ouvir musica cantada em línguas asiáticas, a sentir cheiros de especiarias e comidas bem diferentes, a provar sabores exóticos e deliciosos, a comer de pauzinhos e a sentir as texturas magníficas que me foram servidas… e a ser um bocadinho uma viajante de sabores.

Entrei no Soão cheia de expectativas e saí do Soão apenas com uma certeza – Esta é, sem dúvida, a melhor taberna asiática em que já estive!

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