[#Reflexão] Fear Foods: Quando certos alimentos passam a ser o inimigo

26.10.18




A primeira vez que ouvi falar de fobias alimentares ou “Fear Foods” achei que era a maior parvoíce da face da terra. Porque raio alguém haveria de temer algum alimento, só porque sim? Claro está que há pessoas com alergias alimentares graves e, nessas circunstâncias, faz sentido que essas pessoas temam determinados alimentos, mas este conceito de fobias alimentares nada tem a ver com isso.

Este conceito associa-se mais à exclusão completa ou parcial de determinados alimentos por receio do impacto que eles terão a nível de imagem corporal – por outras palavras, mais sucintamente, uma pessoa recusa-se a comer determinados alimentos por medo de engordar. Pelo menos, esta é a definição que para mim mais faz sentido para este termo.

Realmente achei que era uma parvoíce alguém ter medo de um alimento pois sabia, racionalmente, que qualquer alimento, dentro de uma dieta saudável (e sendo dieta um padrão alimentar e não um conjunto de regras restritivas ou redutoras com o intuito de alterar o formato e/ou peso corporal), não iria fazer mal absolutamente nenhum!

A verdade é que, com tanta informação sobre o que é ou não é saudável, sobre o que é ou não é Fit, e muitas vezes com informações contraditórias sobre determinados alimentos, qualquer pessoa fica um pouco confusa e dá por si a questionar-se… “Será que o alimento X, mesmo em pequenas quantidades, me irá fazer engordar?”. E, sem nos apercebermos, aos poucos, começamos a reduzir determinadas comidas, a evitar determinados produtos que contem o tal ingrediente que nos fez questionar tudo o que anteriormente era racional e lógico, e quando damos por nós já estamos tão envoltos neste mundo de pensamentos irracionais que algo tão inocente como um alimento se torna o nosso pior pesadelo.

Pelo menos, foi isso que me aconteceu.

Lembram-se que disse inicialmente que achava estas fobias alimentares uma parvoíce? Pois bem… parva sou eu. A verdade é que acabei por ser engolida por esta avalanche de pensamentos sem sentido e, devagarinho e sem me aperceber bem do que estava a acontecer, comecei a evitar alguns alimentos – muitos deles coisas que eu gostava muito! Demorei imenso tempo a ter consciência de que o fazia, e ainda mais tempo a perceber que o fazia porque tinha medo.

Confesso que ainda o faço. Ainda tenho medo. Tem sido difícil reverter este ciclo de restrições inconscientes e medos irracionais, mas, mais uma vez, o primeiro passo(inho) está dado – admitir o problema.

Antigamente, não tinha qualquer problema em comer um croissant com queijo e manteiga. Lambuzava-me toda, comia com prazer, e se fosse preciso acompanhava com um belo de um chocolate quente bem decadente ou um sumo qualquer. Agora o pensamento de comer um croissant com queijo e manteiga ultrapassa qualquer limite do aceitável. Na verdade, manteiga entrou na minha lista de alimentos proibidos - embora, seja franca, nunca foi algo que eu morresse de amores. Queijo… Queijo sempre foi uma paixão minha e só agora consegui tomar consciência que eliminei praticamente o queijo da minha vida, e só me permito comer com frequência aqueles triângulos light daquela marca muito conhecida, e, muito de vez em quanto (!!) uma fatia de queijo light… e ainda mais de vez em quando lá cedo a um bom queijo sem qualquer light no nome (que sabe bem melhor, mas que incomoda muito mais). E quanto ao croissant… Por muitos desejos que tenha, há uma vozinha na minha cabeça que me diz “Não vale a pena…” e eu, parva, oiço.
Este é apenas um exemplo das coisas que comecei a fazer, sem saber. Azeite na salada? Nope. Batatas fritas? Hell no. Massas com molhos de queijos e natas? Fujo delas como diabo da cruz. Pizza? No way. Até bananas e frutos secos, coisas normalíssimas, me causam algum medo e por isso evito. No que toca aos hidratos de carbono (massas, arroz, pão,…) não os eliminei completamente da dieta mas diminui significativamente as porções – exceto (kind of) ao pequeno almoço que comecei novamente a comer pão quando comecei a ter acompanhamento médico. Quanto aos doces… felizmente ou infelizmente o meu lado guloso ainda tem um grande peso nas minhas decisões e acabo por não resistir a um bom gelado, ou nutella… mas como com muita culpa a seguir. Chocolates comecei a cortar também. Não me lembro da última vez que comi uma goma… e bolachas que tanto gosto, conto cada caloria e reflito mil vezes antes de as comer.

Agora a verdadeira questão é: Isto faz sentido?
Não. Não faz sentido nenhum.

Porque não me posso permitir a comer uma fatia de queijo só porque sim, porque gosto, porque me dá prazer, porque me faz bem? Porque tenho de sentir culpa depois de comer um gelado que me deixou tão feliz enquanto o comia? Não é por comer estas coisas que vou ficar obesa. Aliás, se é para ficar infeliz, mais vale nem comer – mas se me faz feliz (que faz!), não tenho de me sentir culpada como se tivesse cometido algum tipo de crime! Não é por haver mil e uma pessoas nas redes sociais a comer brócolos e frango a todas as refeições que eu tenho de seguir esse regime alimentar. Eu não sou elas. Eu sou eu. E se o meu corpo precisa de doces, ou de bolachas, ou de pizza, ou de azeite na salada, eu tenho responsabilidade e dever de lhe dar aquilo que ele pede, sem culpas ou castigos. Obviamente que não me vou atirar para uma piscina de comida considerada “menos saudável” – mas não me vou negar um prazer alimentar diário.

Eu não mereço fazer isto a mim própria… E se tu te identificaste com alguma das coisas que eu te disse, também não mereces. Dá a ti própria o direito de ser feliz, e não penses em calorias ou no efeito a longo prazo que aquelas panquecas maravilhosas com muita nutella vão ter no teu corpo – que, guess what, provavelmente não vai ser nenhum!

Este é um passo necessário para a recuperação – seja ela qual for. Admitir o problema, analisar o problema e corrigir o problema. E eu estou a tentar corrigir o meu!

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