Há dias em que apetece mesmo algo diferente… e pensar outside the box ou encontrar algo que não se tenha experimentado antes por vezes é difícil… e por isso temos de pesquisar coisas mais rebuscadas. E não é que é precisamente nestas alturas que se encontram grandes pérolas escondidas?

                Nunca antes tinha estado perto de um templo Hindu e por isso tinha alguma curiosidade em ver a arquitetura e sentir o ambiente que lá existe. Confesso que não sou uma pessoa religiosa (e mesmo que fosse, seria provavelmente praticante da religião cristã pois é a religião do meu contexto familiar) mas tenho interesse em conhecer e perceber outras perspectivas e outras culturas. Para ser muito franca, nem sabia que havia um templo Hindu em Portugal e por isso tinha de lá ir eventualmente, e esta foi uma excelente desculpa!

               Curiosos também?

                Como vos disse, esta Cantina indiana encontra-se dentro do espaço do Templo Radha Krishna. O templo em si é extremamente bonito e tem um jardim do lado de fora (que me pareceu um pouco abandonado mas mesmo assim tinha a sua beleza), decorado com vários elementos alusivos à religião Hindu.

                Uma coisa que observei foi que não havia muita gente perto daquele espaço – o que eu assumi que fosse porque a religião Hindu não é das mais predominantes em Portugal e como tal não há muita gente a frequentar um templo dedicado ao hinduísmo.

                O acesso para o restaurante é um bocado labiríntico, mas tem imensas placas a indicar o caminho – no entanto, temos de andar um pouco às voltas e descer escadas… mas acreditem! Vale a pena!

                O restaurante é exactamente aquilo que promete – uma cantina! E foi uma grande surpresa para mim, pois ao contrario do que esperava ao avaliar o ambiente exterior, o restaurante estava cheio de pessoas a desfrutar as suas refeições – inclusivamente 2 grandes grupos! O ambiente é animado, mas chega a ser um pouco barulhento (bem… volto a frisar que é mesmo uma cantina), predomina o cheiro a especiarias, e há sempre pessoas a circular de um lado para o outro.

                As mesas estão postas de forma peculiar: em vez dos típicos pratos, talheres e copos de vidro, temos uma bandeja, duas tigelas, uma colher e um copo – tudo em metal! A ideia é comer usando apenas a colher e as mãos, mas existem talheres à disposição para aqueles que não querem ou não gostam de por as mãos na massa!

                Relativamente à sala de refeições, é um espaço bastante amplo com várias mesas distribuídas. Não tem janelas, ao fundo fica a cozinha, há também um balcão onde se fazem os pagamentos e onde há também snacks doces e salgados produzidos pelo restaurante para compra!

                Na cantina não há ementa. Não há álcool. E não há carne nem peixe porque, como já disse, é um restaurante vegetariano. Funciona em regime de Buffet e os pratos variam nos diferentes dias. Sei que as fotos não são de pratos gourmet nem fazem jus à qualidade da comida, mas a verdade é que a comida não tem de ser impecavelmente apresentada para ser deliciosa… e confiem em mim que esta foi das melhores refeições indianas que eu alguma vez comi! Ao almoço, a refeição fica a 8€, ao jantar são 10€ e este preço inclui todos os pratos do buffet, a fruta que eles expõem lá e as bebidas que servem!

                E por falar em bebidas… começando precisamente por aí! Ao sentarmo-nos são-nos colocados na mesa dois jarros, um de água e um de lassi! Se não conhecem Lassi, é uma bebida indiana feita com iogurte e que pode ser doce ou salgada e que tem como objectivo cortar o picante das especiarias da refeição. Até este dia só tinha provado o lassi doce – o conhecido lassi de manga que é super doce mas bastante bom! Desta vez, foi-nos servida a versão salgada, feita com especiarias em que a mais predominante era a pimenta. Confesso que gosto mais da versão doce, mas ainda bem que tivemos à disposição a versão salgada pois assim tive oportunidade de matar curiosidade!

                Apesar do que estava descrito na ementa do dia (que está na fotografia acima) eu vou descrever os pratos conforme a perceção que tive deles, pois eu acho que não cheguei a provar nenhum caril de banana, e havia um prato de grão que não estava incluído no menu do dia!

                Há disposição, como não poderia deixar de ser, havia pão Naan – um clássico, que toda a gente ama e por isso estava sempre a desaparecer à velocidade da luz! – e também os Roti que são mais finos e estaladiços, e que têm um toque salgado absolutamente delicioso! Confesso que até gostei mais do Roti, e usá-lo como colher para degustar os restantes pratos foi algo que me deu imenso gozo! Haviam também tangerinas à descrição para quem quisesse algo mais docinho ou uma fruta para sobremesa!

                De seguida, havia uma espécie de caldo de vegetais (à direita) que parecia uma sopa normal mas era bastante condimentada! Eu não cheguei a levá-la no meu prato mas provei da da minha mãe e achei o sabor um bocadinho forte demais. De qualquer das formas, há que provar de tudo e eu tinha de matar a curiosidade! À esquerda, havia um prato de grão, com um molho ligeiramente adocicado e um pouco picante e este sim… era um prato digno de se provar e repetir – e foi precisamente isso que eu fiz! Deliciei-me à grande com esta delicia de grão e combinava mesmo bem com o roti!

                Os últimos dois pratos que haviam à disposição eram na verdade um prato e um acompanhamento – o arroz basmati que não poderia faltar e que fala por si, e um caril de legumes, com beringela, courgete e batata que era de ir aos céus!  Outro prato que me deixou rendida e que me levou, mais uma vez, a repetir – coisa que acreditem, não é costume eu fazer.

                Para os mais corajosos, haviam 3 molhos que tipicamente encontramos em restaurantes indianos: o verde, feito com hortelã e iogurte que não é picante mas é cheio de sabor e dois vermelhos – o da esquerda que é uma espécie de pickles de vegetais com um sabor avinagrado e levemente picante e o da direita que é já um molho mesmo picante mas que ainda assim não achei forte demais. Eu fui corajosa e, claro está, provei todos… e adorei!

                Por fim, havia também uma salada riquíssima (com cenoura, alface, couve, cebola… de tudo um pouco!) para dar frescura ao prato!

                O difícil no meio disto tudo é tentar controlar as porções pois tudo parece delicioso, e arrumar as coisinhas na bandeja e nas tigelinhas, mas acho que isso também é parte do encanto deste restaurante! Além disso, penso que na índia é precisamente assim que se come, nestas bandejas e usando o pão como talher, e por isso acho que esta forma de servir torna a refeição muito mais genuina e mais próxima das suas raízes, e tudo isto se traduz numa melhor experiência – pelo menos eu diverti-me imenso a comer com as mãos (apesar de me terem dado os talheres) e só usei a colher quando não tinha mesmo outra opção!

                Além destes pratos que estão incluídos no Buffet, podem ser adquiridos alguns extras, como pequenos aperitivos, doces, chás, refrigerantes e outras bebidas não alcoólicas. Para a nossa mesa ainda vieram 2 chamuças e duas bolinhas de vegetais que os meus pais pediram mas eu não cheguei a experimentar… mas que tinham bom aspeto, tinham!

                Uma vez que a Cantina funciona com regime de buffet, a interação com o staff é mais breve que nos restaurantes normais, e os tempos de espera não existem – a comida está sempre à disposição.

                No entanto, quando nos sentamos e nos serviram as bebidas, a senhora que nos atendeu foi extremamente simpática e perguntou-nos se era a nossa primeira vez e, como de facto era, explicou-nos como funcionava o Buffet, e também como deveríamos colocar a comida nas diferentes tigelas – a mais funda para a sopa, a mais rasa para os molhos! Depois de nos servimos ainda nos foram questionar se queríamos chamuças e as outras delicias que não constam do Buffet.

                Apesar de toda a agitação do espaço, a energia que se sentia era muito boa, e o staff estava sempre a sorrir o que nos fez sentir muito bem-vindos!

                Qual é o veredito final? Têm de lá ir. A sério… têm mesmo! Para além de terem o privilégio de ver um templo que é muito bonito, vão ficar muito positivamente surpreendidos com toda a experiência! Não tenham medo de comer com as mãos – sujar os dedos nunca fez mal a ninguém e não vai haver alma que vá olhar de lado para vocês!

                Arrisquem e experimentem todas as iguarias, mesmo que achem que tem aspeto esquisito, pois vai ser certamente uma bomba de sabor! E além disso… os preços são mesmo muito apetecíveis! Vale muito muito muito a pena a visita!