[#Recuperação] Fui comer Sushi... na companhia do medo

11.6.20

            Orgulho-me de dizer que já estou melhor. Muito melhor, arrisco-me a dizer. Mas não estou curada. E por vezes, algumas situações encarregam-se de me lembrar disso quando estou um pouco mais relaxada.

As grandes coisas – comer 5 refeições por dia, comer hidratos (ainda que moderados) em todas as refeições, permitir-me sentar no sofá e ver uma série, pensar em algo além de comida e actividade física, ou até o meu humor e a formas como me sinto em relação a vida – já não me afectam tanto.

Isto permite-me esquecer, a maior parte do tempo, que minha persona doente existe. Mas ela ainda está lá. Calada, coberta com um manto de invisibilidade… mas ainda está lá. E é nas pequenas coisas, mais inesperadas, que ela se faz ouvir. Aparece tão de repente que por vezes me manda ao chão. É difícil prever quando isto acontece, e depois é difícil de lidar quando acontece, pois já não tenho as minhas defesas em altas permanentemente.

A quarentena afectou-me. Mas se pensar bem, não nos afectou a todos? Foi este pensamento que me ajudou a perdoar-me nos dias em que me senti pior, e me fez encontrar um equilíbrio e definir uma zona de conforto para me ajudar a viver com calma esta situação que todos atravessamos. Mas a pandemia é uma grande coisa, não uma pequena, e como eu já tenho muitas estratégias e mecanismos para lidar com as grandes coisas, achei que foi fácil lidar com isto tudo.

Mas a pandemia trouxe também muitas pequenas coisas.

Depois de 3 meses em casa, fiquei genuinamente entusiasmada por ter combinado ir almoçar a um restaurante com uma grande amiga minha. Combinamos ir ao sushi – uma coisa que adoro e que tinha imensas saudades! Mas aqui na terrinha há muito pouca variedade e, dos 3 restaurantes que há num raio de 30km, um estava fechado, um só servia jantares e o outro não atendia sequer o telefone. Fiquei triste, verdadeiramente triste.

Mas alteramos um pouco os planos e arranjamos maneira de ir jantar em vez de almoçar. E mais uma vez o entusiasmo subiu…. Até que a minha persona doente decidiu aparecer.

Atingiu-me como se me batesse com um bastão no peito. E nesse momento pensei em todas as desculpas possíveis e imaginarias para cancelar – e acreditem, a anorexia fez-me desenvolver uma capacidade de arranjar desculpas bem credíveis para estas situações. Mas eu não queria arranjar desculpas. Eu – pessoa sã – quero ir, quero comer, e quero desfrutar da companhia e da experiência.

Gerou-se automaticamente um conflito interno, um misto de emoções. Por um lado, o medo de ir a um restaurante, de comer demais, de inchar, dessas coisas parvas todas que achava já ter superado. Por outro, a culpa de ter considerado cancelar o plano à última da hora. E por fim, a minha vontade de ir e a frustração de ainda sentir estas coisas todas.

Mas a verdade é que recuperar é isto mesmo.

Recuperar é sentir estas emoções todas e ser capaz de as gerir e tomar a decisão que EU QUERO e não que a doença quer.
Recuperar é OLHAR o medo nos olhos e enfrentá-lo.
Recuperar é SENTIR e viver o desconforto, sabendo que temos a opção do conforto, mas que esse conforto não é são.
Recuperar é ESCOLHER o que realmente nos faz bem

RECUPERAR É VIVER EM VEZ DE SOBREVIVER.

 

Sim, eu tenho medo. Sim, a ansiedade deu cabo de mim.

MAS FUI COMER O SUSHI. E que bem que me soube.

(e o mesmo principio se aplica a tudo)


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7 comentários

  1. Olá Patty, encontrei recentemente o teu blog e acho que me relaciono com este post. Foi-me diagnosticado vertigens algo que nunca tive na vida, que aconteceu durante o sono. dizem que pode ser do stress, há 1 semana atrás. Também me dá medo de sair, já nem tanto pela pandemia mas pela minha pessoa, pois nós não controlamos isto, é o cérebro. Temos que conseguir controlar o cérebo, ninguém o vai fazer por nós. Vejo que conseguiste sair e fico contente. Eu também consegui sair, embora a questão seja diferente, o medo de sair deve ter sido similar.
    As melhoras e que consigas ultrapassar isso a seu tempo =)

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    1. Olá minha querida! Antes de mais obrigada pelo comentário :)
      Entendo o teu medo... ainda para mais por causa das vertigens mas... temos de pensar: Quem é mais forte? Tu ou o medo? Tu, claro! É tudo uma questão de termos a determinação e a força certas! Tu vais conseguir!

      As melhoras, força e um grande beijinho *

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  2. Não gosto de sushi, mas podes sempre convidar-me para outro tipo de comidinha. 😃

    Recuperar também é enfrentar, avançar o obstáculo, seguir em frente, sem olhar para trás!
    Os teus pais permitem que diga que: "tenho muito orgulho em ti."?

    Beijinhos
    Liliana
    Beijinhos

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  3. Dou-te o poder de escolher :D Não posso dizer que gosto de todas as comidinhas, mas já não digo não a experimentar!

    E agradeço do fundo do meu coração as tuas palavras...! Certamente que eles não se importam, e eu fico mais que feliz :)

    Um beijinho grande*

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  4. Um passo de cada vez! Adorei a partilha.

    E sim, a quarentena deixou-nos a todos ansiosos.

    Um beijinho grande,
    vanessa casais
    https://primeirolimao.blogspot.com/

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  5. Durante todo este período de confinamento, continuei a mandar vir comida, nomeadamente sushi, apesar de dizerem para ter cuidado.
    Ainda só fui a um restaurante desde que o desconfinamento começou mas não senti medo. Marquei mesa na esplanada e por momentos esqueci-me de tudo isto. Sabe bem voltar a "normalidade"

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    1. Eu acho que quanto mais "normal" formos capazes de manter a nossa rotina, melhor :) Infelizmente vim para a casa dos meus pais e aqui os take aways são limitados mas soube bem também voltar aos restaurantes, com os cuidados necessários :)

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